A visão de Esteban Maroto para H.P. Lovecraft

É extremamente complicado pensar em adaptar para outra mídia os contos de H.P. Lovecraft. O renomado escritor tem sua forma de realizar a demonstração meio maluca de seu universo. Os monstros são sempre apresentados como ameçadores não apenas para os personagens, mas também aos leitores.  Suas tramas saem de um ideal comum no horror de ameaçar fisicamente os protagonistas, para transportar esse receio a quem lê. A sua fórmula trouxe diversas novas inovações e influências para o gênero. E, toda essa questão, mostrou a possbilidade de adaptação para outras mídias como quase impossível.

O desenhista Esteban Maroto foi um desses a tentar. Convidado por uma editora para fazer parte de uma coletânea, ele acabou sendo o único a realmente realizar essas obras. Nesse resgate histórico realizado pela editora Pipoca e Nanquim, é possível ver as três edições desenhadas pelo espanhol na íntegra. Em Os Mitos de Cthulhu, é possível observar a maestria e o desenvolvimento de dois mestres da nona arte em conjunto. É possível perceber a maneira na qual Maroto tenta trazer as diversas silhuetas e tracejados de Lovecraft. Se, por muitos anos, foram criticadas as mais diversas tentativas de transpor os escritor, é impossível realizar isso aqui. O pesadelo na cabeça dos leitores ao longo de anos, viram realidade.

É interessante como Esteban não tem medo de articular uma interpretação bem própria dos monstros. Durante os 3 contos, temos início, meio e fins bem diretos e nem um pouco delimitados. Em todos, o monstros, em conjunto desses terror a espreita, fazem parte central das narrativas. Eles aparecem sempre delimitando alguns acontecimentos, porém sempre os mais relevantes. Em “A Cidade Sem Nome”, por exemplo, a ideia do monstro surge de uma forma bastante indireta, pela simples inquietação do personagem. Ele busca conhecer aquele lugar, mesmo que sua consciência pareça dizer ao contrário. Contudo, acaba sofrendo consequências de seus atos. O inimaginável, segundo narrações de Lovecraft, ganha vida e contornos, algo sustentado pelas três histórias.

O artista não tem medo algum de também demonstrar sua visão para com os pensamentos dos protagonistas. Todos não ambientam as palavras através de balões, todavia por pensamentos. É um recurso que poderia soar mais cansativo, em uma memórias de quadrinhos mais clássicos. Apesar desse pensamento, é algo extremamente intrigante para tornar esse horror psicológico mais padronizado. Ao mesmo tempo que a trama caminha em uma eterna dúvida, em um jogo na qual brinca com a verdade e mentira. Esse fato traz uma certa semelhança ao cinema do mesmo gênero, especialmente o realizado por John Carpenter e Wes Craven.

Mesmo toda essa ambientação fortalecendo o teor dramático composto aqui, a falta de modificações por parte de Esteban se mostra presente. Ele parece querer sempre deixar o texto como texto, buscando mais seus olhares através de toques mais psicodélicos, por exemplo. Isso acaba sendo um transformador de ambiguidade. Por um lado, a não alteração do original de H.P. busca uma autenticidade necessária para gerar interpretações na mídia das HQs. Por outro, as tramas se transformam em uma eterna disputa de exposição. Não chega a ser chato em momento nenhum, contudo por chegar a incomodar alguns. É uma relação meio esquisita, quase como se estivéssemos tendo contato de obras mais antigas. É um trabalho de contato histórico. Interessante e distanciador.

Nessa produção, Esteban Maroto sabe buscar algo bem próprio para falar de H.P. Lovecraft. Alguns dizem que gênios pouco tem contato uns com os outros, mas aqui isso é mostrado ao contrário. Em Os Mitos de Cthulhu, todo o trabalho conjunto – mesmo sem ter sido no exato tempo – busca uma sinergia interessante para cada um dos capítulos. Em alguns esse trabalho é refletido mais diretamente, especialmente no primeiro, na qual a trama flerta com o exeperimental. Em outros, isso acaba atrapalhando um maior desenvolvimento narrativo, porém serve de maior interesse, como no caso da terceira história (a que da título a HQ). Os medos criados pelo autor inglês parecem ainda estar em nossas cabeças e pairando um imaginário social na atualidade. Maroto apenas dá voz e forma aos mesmos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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