Buscando…: O encontro perfeito entre suspense e tecnologia

De tempos em tempos, é possível encontrar certas “tendências” na esfera cinematográfica. Algumas acabam sendo duradouras de uma certa maneira, outros não passam de alguns, e algumas marcam décadas ou gerações. É possível citar como exemplo o boom de super-heróis após o lançamento de Homem de Ferro em 2008, e a consolidação desse sucesso com Os Vingadores em 2012. Dentro do terror, há a onda do horror adolescente, com a febre de Pânico, e mais recentemente, os found-footage. 

Seguindo um esquema parecido, veio um formato inusitado: mostrar uma história do ponto de vista das telas de computador. O primeiro a seguir essa esteira foi Amizade Desfeita, do agora renomado estudio Blumhouse. Apesar de certo sucesso financeiro e um formato interessante, a crítica não se empolgou. Será que essa fórmula poderia resultar em um bom filme?

Buscando…, primeiro longa-metragem do diretor Aneesh Chaganty veio provar que sim.

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Desenvolvida inteiramente através dos computadores dos personagens, a história fala sobre David Kim (John Cho), um pai solteiro, ainda lidando com a perda recente de sua esposa para o câncer. Aparentemente, David e a filha única Margot tem um bom relacionamento. Quando Margot desaparece após uma noite de estudos, David decide invade o computador da filha em busca de pistas que possam ajudar a polícia na investigação, liderada pela detetive Vick (Debra Messing). As pistas, que apontam para cenários cada vez piores, mostram que David não conhecia sua filha tão bem quanto ele achava.

O grande trunfo de Searching é a inteligência de seu roteiro. O público é apresentado à família Kim mais de sete anos antes dos eventos atuais, criando de maneira rápida e efetiva uma conexão entre os personagens centrais e o espectador. Tendo isso em vista, quando as coisas começam a dar minimamente errado em tela, já se inicia a construção de uma trama envolvente e complexa. A investigação acompanhada é ágil, não fugindo muito do padrão dos filmes de suspense, mas a maneira com que a tecnologia é inserida no mistério é que faz tudo ser tão funcional. David é um pai comum, atualizado com os programas comumente usados por todo mundo, então é difícil pensar que você não entraria nos mesmos sites e programas que ele caso estivesse em uma situação parecida.

O roteiro, escrito pelo diretor e por Sev Ohanian, brinca a todo momento com as expectativas de sua audiência. Nenhuma informação, visual ou verbal, é jogada ao acaso e é isso que faz todo o desenrolar da história ser tão envolvente, preparando terreno para um excelente clímax e uma conclusão que consegue ser surpreendente e coerente ao mesmo, como toda boa resolução de mistério deve ser.

John Cho e Debra Messing são os personagens mais importantes do longa, que apresenta um catálogo pequeno de coadjuvantes. Cho tem uma extensa carreira como coadjuvante em grandes e pequenas produções americanas, então é um rosto conhecido. O ator esteve excelente no despercebido Columbus, então não é surpreendente a capacidade com a qual ele se entrega aos papéis, interpretando com sucesso a angústia, desespero e tristeza de um pai que faria (e faz) de tudo para encontrar sua filha. Messing, conhecida por seus papéis cômicos, surpreende no papel de uma detetive séria e focada, entregando olhares cansados e sóbrios e uma história pessoal que faz dela uma das personagens mais interessantes do filme.

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Vale comentar também como reproduziram de maneira impecável os sistemas eletrônicos na telona. Tudo foi feito de maneira bem fiel, até os antigos sistemas Windows com seus wallpapers de campos verdes aos Macbooks e sua interatividade com outros aparelhos. Além disso, tudo é incorporado à história de maneira bem eficiente. Em alguns momentos, pode parecer forçado certos tipos de conversa ocorrerem através de FaceTime ou mensagens de texto, mas é importante lembrar também que há todo um cenário econômico e social que contribui para essa impressão do espectador. Um público diferente, talvez, se identifique de maneira melhor com a rotina apresentada. Fica também um elogio à Sony Pictures Brasil, por ter traduzido todos os cenários virtuais, deixando as legendas apenas para os diálogos. Isso também contribuiu muito para uma melhor imersão com o longa.

A trilha sonora de Torin Borrowdale, apesar de apresentar nada inovador, também contribui de maneira essencial para a tensão de muitas cenas importantes do longa. Considerando o formato digital, seria uma opção válida se abster de música, mas a opção do diretor em mantê-la foi muito acertada.

Buscando… acaba sendo, portanto, um dos grandes filmes de 2018. Além de ser inovador em sua trama, o longa também faz história ao apresentar um elenco asiático no centro de sua história, além de também ser comandando por um diretor asiático-americano. Essas conquistas se tornam ainda mais grandiosas quando surgem junto com um filme de qualidade ímpar.

Agora resta esperar para descobrir o que mais Aneesh Chaganty possui reservado para nós.

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