Cinema brasileiro nos últimos 20 anos: 2014-15 (Parte 9)

O momento político e artístico da década inciada em 2010 trazia a necessidade de debates nas obras bem maiores ou diferentes do que estava sendo proposto anteriormente. Uma comédia mais direta, é claro, ainda ganhava espaço. Um desses exemplos é Loucas para Casar, que levou 3,7 milhões de pessoas para as salas em todo o território. Porém, a necessidade de realizar produções mais críticas ou que levassem a frente a questão LGBT e/ou pautas femininas se tornou presente.

Dentro desse contexto, dois filmes podem ser considerados destaques maiores. Não que esses revolucionem a maneira de realizar a sétima arte no Brasil, mas traziam a tona questões políticas que estavam urgentes para as populações desfavorecidas.

Hoje eu quero voltar sozinho

Baseado em um curta chamado Eu não quero voltar sozinho, do mesmo diretor Daniel Ribeiro, o longa conta a história de um menino cego no qual começa a sentir atração por outro menino de sua turma.

Hoje eu quero voltar sozinho possui uma narrativa extremamente simples e tem um orgulho intrínseco disso, já que sua discussão ultrapassa esse fator. Indo para caminhos da descoberta do amor e da sua própria sexualidade, a produção entra em uma necessidade contemporânea da arte de normalizar a maneira que as pessoas realmente são.

“Me lembro das muitas conversas que tive com amigos em várias situações e de este ter sido sempre um assunto recorrente, sobre como cada um descobriu sua sexualidade, o primeiro amor da adolescência, essas coisas. Todos temos uma história dessa época da vida porque é uma fase muito marcante, e essas descobertas são comuns a todo mundo.”, disse o comandante em entrevista ao site Cineclick.

As influências do cinema independente estadunidense são também extremamente claras, quando se parte de um ambiente comum e padrão para gerar interrogações na cabeça do espectador, que precisa repensar aquele meio comum. Talvez Juno seja um desses maiores exemplos para tornar a obra aqui retratada ainda mais importante e atual.

Que horas ela volta?

Anna Muylaert é um nome já celebrado no audiovisual brasileiro, principalmente devido a sua participação como roteirista em início de carreira no programa Castelo Rá-tim-bum. Entretanto, foi ao longo dos anos que sua credibilidade começou a aumentar, realizando seu primeiro longa-metragem em 2002.

Apesar de ser conhecida, o seu reconhecimento como diretora ainda não era tão forte, faltava algo para a aclamação real para o público e crítica.

Em 2015, ela lança em território nacional Que Horas ela volta?, um filme que retrata questões muito mais complexas do que o apresentado em sua camada inicial. Distanciamento, confinamento, luta de classes, ascensão social através de programas do governo, racismo e muito mais. Todos esses fatores estão em conjunto com o sucesso absurdo entre os críticos, algo que fez com que a produção chegasse a ser premiada internacionalmente no Festival de Sundance e Berlim, se tornando um dos mais cotados de estar na lista de melhor filme estrangeiro no Oscar – fato que acabou não acontecendo.

Apesar disso tudo, os maiores elogios vieram para algumas sequências marcantes (a mais comentada é a cena da piscina) e para as atuações de Camila Márdila e Regina Casé. A dupla, inclusive, saiu vitoriosa no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, em 2016, aonde o longa também ganhou como melhor filme.

Independência

Esses dois anos foram, talvez, os mais importantes para uma real consolidação do mercado independente no cinema brasileiro. Fora isso – e com um número de obras cinematográficas cada vez maior – os gigantes blockbusters perderam espaço ainda mais para os filmes internacionais, o que vem gerado uma intensa discussão sobre a quantidade de salas voltados para o Brasil dentro do circuito de audiovisual.

As leis de incetivo atingiram seu grande patamar, mas isso se refletiu na chegada dessas produções para o público nacional? Esse tipo de discussão será pensada depois.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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