Creed 2: A defesa do legado

Toda a franquia Rocky sempre foi permeada por uma construção mitológica da figura do pugilista Rocky Balboa (Sylvester Stallone). Desde o primeiro longa, em 1976, esse personagem vai se tornando uma figura inalcançável e imbatível em seu meio, fato muito bem trabalhado ao decorrer da saga. Em Rocky Balboa, de 2006, vemos esse ser ter que confrontar todo seu passado, quase como uma maneira clara de se manter vivo. Logo após isso, a chegada de Creed mostrou que o fator se pesaria em uma outra ideia: na construção de um legado, algo trabalhado em todo o filme. Porém, o legado se transforma em um peso, em uma dificuldade para ser percorrida por Adonis (Michael B. Jordan), filho de Apolo Creed, o rival de Balboa. Em Creed 2 todo esse legado parece ser mais consolidado sob a cabeça do protagonista, agora atingindo seu ápice e conquistando o cinturão no boxe. Porém, todo esse legado é sempre combatido e posto a prova, colocado como um gigantesco obstáculo na construção de uma nova figura mitológica.

Aqui, Adonis vive o auge de sua fama, graças à construção de sua carreira ao longo dos últimos tempos. Todavia, Viktor Drago (Florian Munteanu), filho do boxeador que matou seu pai, Ivan Drago (Dolph Lundgren), o desafia para uma luta. Mesmo contra todos, ele aceita, precisando provar como a figura de Apolo não está morta no imaginário. Porém, qual o custo necessário para que ele faça isso?

A obra possui uma relação temática bem relacionada ao primeiro Creed. Como dito acima, todo o conceito abordado nessa sequência está relacionado a uma defesa de um passado, de um nome, principalmente. E o mais interessante disso tudo é como existe uma tratativa em abordar essa questão não apenas no personagem principal, mas também no seu antagonistas, Viktor. Com Creed essa relação se estabelece por tudo que envolve a morte de seu pai, gerando um impulsionamento dramático de tensão na relação entre Rocky, sua namorada Bianca (Tessa Thompson) e sua mãe, Mary Anne (Phylicia Rashad). Já com o “vilão”, se é possível dizer assim, esses empasses são também relacionados a figura paterna e o fracasso perante a derrota com Balboa (acontecido em Rocky IV), mesmo servindo de uma extensa exposição em repetir esse fato. Entretanto, isso serve como um impulsionamento de uma construção pessoal, de não se perceber como um erro, assim como ocorre na trajetória do filho de Apolo.

Com esse quase embate de gerações – é intrigante até como o próprio longa impulsiona os embates entre Ivan e Balboa – se trabalha boa parte da base temática abordada. O grande problema acaba por ser ir em um caminho das lutas como uma continuidade narrativa para o drama do que um momento catapultante, como o que Ryan Coogler fez no anterior. O diretor Steven Caple Jr. parece mais preocupado com todo o lado dramático presente nessa história, exacerbado nesses instantes geracionais, porém diminuído na própria estrutura que o filme se encontra, ou seja, uma quase cópia de Rocky IV. Essa estrutura pode ser exemplificada pelos dois ápices acontecendo nos Estados Unidos e na Rússia e em uma busca de superação perante a um adversário bem mais forte fisicamente. Além disso, os arcos de drama são inchados por diversas situações menores – como o bebê. Existe uma tentativa de trazer uma abordagem mais próxima de Touro Indomável, mas acaba soando um tanto quanto vazio.

Em relação as batalhas, Caple Jr. possui uma visão mais voltada para o lado altamente estilizado. Coogler usava esses segundos de forma a gerar uma crescente conexão da audiência com a figura do protagonista, porém aqui essas batalhas se transformam em uma continuidade natural do enredo. Ao estilizar as batalhas, com câmeras lentas e uma encenação baseada câmeras fechadas, ele parece mais preocupado ainda em trazer um lado menos épico e mais contínuo da narrativa. Não é a toa que o final do terceiro ato pouco tem de edificante, trazendo, novamente, para uma sequência mais realista e cotidiana.

Creed 2 possui lampejos de grandeza na sua discussão temática e no crescimento de embates da sua própria trama, porém a todo momento soa como uma cópia, uma repetição formulística de outras obras. Falta uma certa identidade visual única, um sentido propriamente contínuo da trama. Apesar de possuir seus momentos, é um filme facilmente esquecível dentro de uma franquia que sempre buscou esses instantes inesquecíveis. Talvez se destacasse mais se as semelhanças com outros capítulos anteriores não fossem tão grandes.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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