Crítica – Annabelle 3: De volta para casa

É inegável que uma das presenças mais fortes do cenário de terror atualmente é James Wan. Não satisfeito em iniciar uma onda de torture porn após o sucesso de seu Jogos Mortais em 2004, o australiano impactou novamente o gênero em 2013 com Invocação do Mal, que com sua história simples e direção efetiva acabou resultando uma franquia com seu próprio universo cinematográfico. Após roubar a cena no primeiro Invocação, a boneca Annabelle ganhou seu próprio longa em 2014, com uma sequência três anos depois. Dado o sucesso financeiro das duas entradas, não é surpresa que este ano ela esteja novamente surgindo nas telonas, fechando sua própria trilogia com Annabelle 3: De volta para casa.

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O filme começa em 1968, logo após os demonologistas Ed e Lorraine Warren ajudarem uma dupla de amigas com Annabelle. No caminho de volta para casa, com a boneca no banco de trás, o casal logo percebe que a ameaça é bem maior e mais perigosa do que eles pensavam, já que Annabelle atrai e invoca espíritos tão malignos quanto ela. Após Ed sobreviver a um acidente provocado pelos fantasmas, a boneca é trancada em vidro sagrado no “museu” que os Warren possuem em casa para guardar artefatos amaldiçoados.

Quatro anos depois, os Warren se preparam para mais uma viagem de trabalho e recebem a jovem Mary Ellen em casa, para cuidar de sua filha Judy enquanto estão fora. Apesar de bem nova, Judy é muito inteligente e já parece compartilhar os mesmos dons mediúnicos de sua mãe Lorraine. Na escola, além de ser atormentada por colegas que caçoam da profissão de seus pais, ela também vê constantemente o espírito de um padre. O que prometia ser uma noite tranquila, no entanto, muda completamente quando Daniela, uma amiga de Mary Ellen, decide se convidar para a casa dos Warren. Curiosa sobre o museu dos artefatos, Daniela acaba tirando Annabelle da caixa, libertando não só o espírito maligno que a possui, mas também todas as outras entidades presas na sala.

O filme foi escrito e dirigido por Gary Dauberman, responsável por trabalhar no roteiros de produtos de horror da Warner que foram grande sucesso, como os primeiros Annabelle, A freira e as duas partes de It: A Coisa. Dito isso, esse terceiro capítulo apresenta uma significativa diferença em relação aos outros por trazer para o protagonismo figuras bem mais jovens, com um cenário e riscos bem reduzidos (ainda que bastante significativos dentro da história). Durante boa parte da projeção, o clima é quase o mesmo de assistir a um episódio de Goosebumps, Clube do Terror ou qualquer tipo de suspense juvenil que tanto agradou muita gente em tardes de Cinema em Casa. Lidamos com bullying e paixonites juvenis que são tão importantes para a narrativa quanto uma tragédia pessoal e mitologias sobrenaturais. Embora isso traga um frescor e leveza que não prejudicam o resultado final, talvez esses elementos não agradem muito o público, que certamente espera algo mais maduro.

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A direção de Dauberman não traz nada de inovador ou especial, mas também não decepciona. Felizmente, ele aposta pouco nos famosos jump scares tão popularizados pela franquia, confiando mais no suspense crescente e com elementos visuais no canto da tela e efeitos práticos. Felizmente, é um filme consciente de seus limites narrativos (e técnicos) e faz bom uso do que está disponível para aumentar a tensão. É apenas no terceiro ato que o terror realmente toma conta da história. Os elementos fantásticos são bem utilizados, trazendo figuras tão interessantes que podem até vir a ter seus próprios longas, como O Barqueiro, baseado no mito grego do barqueiro do inferno, a noiva possuída e até mesmo o samurai. Muitos dos momentos desses personagens são acertadamente focados na tensão e não no susto. É realmente libertador para o público quando o caos finalmente se instaura na casa dos Warren, após quase uma hora de construção. Dada a relativamente curta duração, talvez até fosse beneficiar o filme que esse clímax fosse mais longo.

E tudo isso funciona também por causa do elenco. McKenna Grace, que coleciona cada vez mais grandes títulos do cinema em seu currículo, é aqui quem mais se destaca. A pequena acabou de completar 13 anos, mas apresenta muita maturidade em sua performance e seu talento, construindo Judy Warren como uma protagonista carismática e essencial para que a proposta do filme tenha êxito. Portanto, apesar de ficar claro até para o grande público que Annabelle 3 é um caça-níquel dos mais descarados, foi uma decisão acertada a mudança de tom, resultando em um filme que pode não ser tão assustador quanto parece, mas é uma inegável diversão.

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