Crítica – DOM (1ª Temporada)
É interesse e comum o jeito que é pensado DOM. A nova série nacional do catálogo do Prime Video trabalha uma história real sobre um traficante dentro da ótica da violência e criminalidade do Rio de Janeiro. Assunto batido e bastante já utilizado dentro da produção brasileira – quem deu um pontapé mais forte para disseminação disso no mainstream foi Cidade de Deus, em 2002. O grande diferencial aqui é contar essa história sobre um ponto de vista mais familiar, relacionando com o contexto de desenvolvimento do tráfico na cidade. Existe uma perspectiva de uma relação caótica que passa de pai para filho, ao mesmo tempo que há também uma preocupação sobre o que tudo isso poderá causar. E é nesse trunfo que o seriado se baseia para causar um apreço com o público.
Acompanhamos a trama sobre dois pontos de vista. O primeiro, e menos presente, do passado, aonde vemos o jovem Victor Dantas (Filipe Bragança), um mergulhador que acaba ajudando a polícia em um serviço. Ele se infiltra dentro de uma facção criminosa para ser observador do desenvolvimento de como as drogas conseguiam ser vendidas e evoluir pelo Rio. Ao mesmo tempo, o ponto mais relevante daqui encontra-se no início dos anos 2000. É ali que vemos Pedro (Gabriel Leone). Ele é um menino da zona sul que começa a se envolver desde cedo com drogas. É ali que cria uma gangue para roubo de locais de luxo por toda a cidade, causando a ira de seu pai, Victor Dantas (agora interpretado por Flávio Tolezani).
Existe uma perspectiva curiosa na criação de Breno Silveira, que dirige e escreve todos os 8 capítulos. A narrativa está sempre em busca de observar como essa construção das figuras menores e “playboys” é capaz de consolidar uma força tão grande dentro da própria história do tráfico. Até por isso, a ideia de criar um ciclo vicioso familiar gera uma consolidação dessa fomentação que seria necessário sempre alguém fora desse contexto da violência da favela para trazer prosperidade. A edificação midiática de Pedro, que começa a ser chamado de Dom, também é um dos pontos centrais para qual a série está tentando olhar.
DOM é uma produção que gosta de brincar com uma ideia de mundo complexa e quase capaz de causar um apreço por parte da audiência. Silveira curte essa espécie de curiosidade da maneira que os dramas acabam sendo desenvolvidos, especialmente por dar destaque profundos para o prazer gerado por todos os roubos. Desse jeito, as cenas de sexo e uso de drogas acabam sendo constantes, e são fundamentais para construir a relação que o protagonista terá com outras mulheres, como o caso de Jasmin (Raquel Villar). Todavia, o elemento fundamental é também gerar a complexa relação perante Lico (Ramon Francisco), um amigo de infância que acaba tentando sempre o ajudar.
Mesmo se inspirando em um fato, é curioso como o seriado o tempo inteiro está olhando para um caminho quase irrealista do desenvolvimento narrativo. Ele deixa aberto espaço para algumas cenas quase lúdicas desse olhar sobre a favela e os personagens. É como se toda essa situação parecesse não acontecer de verdade e fosse apenas um outro olhar sobre aquilo tudo.
A primeira temporada de DOM abre portas para uma sequência. O trabalho de Breno Silveira é até curioso e interessante em explorar uma dinâmica familiar e mais complexa sobre a formação desses personagens. Contudo, esse emaranhado parece criar apenas um verniz dentro de uma trama que já foi vista de diversas maneiras em diversos locais diferentes. Falta um enfoque, uma busca por algo mais profundo dentro essa perspectiva toda. Ao ser um olhar sobre o protagonista, a série até funciona, mas, no fim das contas, parece se fechar apenas nisso.