Crítica: Monstros de Veracidade, parte 1

Criar novos mundos pode ser uma tarefa complicada.

Para os autores da fantasia Young Adult, no entanto, não parece ser o caso. Com foco no público jovem adulto, novos lançamentos de fantasias urbanas, medievais e até mesmo científicas chegam às livrarias a cada semana, apresentando novos e inusitados cenários alternativos. Um desses casos é A melodia feroz, de Victoria Schwab, a primeira parte de uma duologia sobre dois adolescentes que vivem em lados opostos de uma mesma cidade dominada por guerras e monstros. Publicada inicialmente em 2016, a série Monstros de Veracidade é um dos muitos mundos de fantasia que lotam as estantes das livrarias, fazendo o público se perguntar que talvez a criação desses mundos não seja tão difícil quanto parece.

Victoria Schwab já é letrada não só no universo literário juvenil, como em campos de fantasia. A autora já publicou mais de dez livros, incluindo uma aclamada série envolvendo universos paralelos de Londres e piratas mágicos. Levando isso em consideração, as escalas deste livro parecem até pequenas. A história se passa em Veracidade, uma cidade onde monstros terríveis se escondem nas sombras. O Norte é uma metrópole próspera onde a população é obrigada a pagar pela proteção do cruel Callum Harker enquanto o Sul é uma democracia frágil liderada por Henry Flynn e sua pequena e corajosa frota de combate às criaturas. Os dois lados estão em pé de guerra, mas ambos os líderes vivem em uma trégua prestes a acabar.

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A autora Victoria Schwab

Kate Harker está de volta ao Norte após anos entrando e saindo de internatos devido ao seu comportamento problemático. August Flynn só quer que a cidade tenha um pouco de paz. O mundo dos dois jovens, tão diferentes e ainda tão semelhantes de maneiras particulares, está prestes a colidir quando August é enviado ao lado norte para espiar e observar Kate, sem imaginar que ambos estão envolvidos em uma conspiração tão perigosa que a única maneira de permanecerem vivos é ficando juntos.

Para um leitor ávido, o primeiro livro da série é a pedida perfeita. Com um ritmo rápido, Schwab apresenta os protagonistas de uma maneira concisa e envolvente, preparando terreno para o universo sendo apresentado e os cenários que iremos acompanhar ao longo da leitura. A autora conhece bem o seu público, entregando personagens que conseguem ser cativantes sem abrir mão de elementos mais maduros. Tanto Kate quanto August tem personalidades e comportamentos condizentes com o ambiente perigoso em que vivem, cada um com sua cruz para carregar e com inevitáveis traços de violência. Mesmo sendo voltada ao público jovem, essa é uma trama que pede pilares e rumos específicos, e isso é algo do qual a autora não foge, incluindo nos coadjuvantes.

A trama política, apesar de simples, é bem construída desde o começo. A situação dos lados Norte e Sul beiram o distópico e isso não é ruim. Para um livro narrado em primeira pessoa por seus dois protagonistas, os coadjuvantes são muito bem explorados e inclusos na trama. É verdade que são participações que poderiam ser maiores, mas esse é um elemento que pode ter mais presença no segundo volume. E é talvez pelo ritmo agitado e pela atenção dada ao desenvolvimento dos personagens que a mitologia e o universo por trás de A melodia feroz tenham ganhado pouco espaço nesta primeira parte. Talvez seja algo da minha experiência, mas demorei a compreender com clareza como funcionava o sistema social de ambos os lados da cidade e a existência dos monstros e como eles existiam. Há três tipos de monstros. Criados pela própria violência dos humanos contra si mesmos, eles se dividem em três tipos: os corsai, semelhantes a zumbis que se escondem na escuridão e são quase primitivos, os vampíricos malchai, que se alimentam de sangue e ainda possuem traços humanos e raros e temidos sunai, temidos seres que roubam almas através da música.

Ao fim da leitura, A melodia feroz se mostra como uma viciante e divertida história repleta de ação, uma sutil crítica social e personagens que conseguem te cativar e te irritar ao mesmo tempo. Embora a criação de mundo não tenha sido impecável, foi inteligente e criativa o suficiente para se tornar intrigante e complexa. Fica a expectativa para a conclusão da história no segundo volume.

 

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