Found Footage e o terror em todos nós
Somos parte do terror. Parece ser uma afirmação forte, porém estamos conectados nesse modelo de medo na qual sentimos na pele todos os dias. Alguns também acabam por ser responsáveis por isso tudo. E isso independe de questões urbanas ou rurais, visto seu estado no social. Dessa forma, algumas obras de terror exploram isso mais do que outras. Recentemente, o gênero tem abordado isso mais diretamente. Entretanto, a ideia de estarmos presentes com os personagens nisso tudo acabam por se disseminar bastante. O uso da câmera acabou sendo mais específico em filmes como Holocausto Cabinal, mas ganhando espaço mesmo com A Bruxa de Blair.
Em Found Footage, o autor Marvin Rodriguez explora isso em uma correlação mais direta do protagonista. Ele é um cineasta falido, em que não consegue mais dar certo em nenhum trabalho contratado. E, agora, acaba por não ser mais contratado para nada. Certo dia, ele recebe uma proposta um tanto quanto confusa apenas para realizar um trabalho de filmagem por um bom dinheiro. Quando vai realizar as gravações, ele descobre se tratar de algo muito mais complexo e bizarro do que aparentava. Dessa forma, terá de lidar com todas as consequências do feito.
O desenvolvimento narrativo de Marvin passa bastante por toda a forma de trabalho na história. Primeiramente, pelo fato de idealizar sua trama próxima de um filme. É interessante como – incialmente – essa questão se trata de realmente algo intrínseco ao aparecido, como a filmagem a festa de uma criança e a necessidade de gravar por cima de outra. Além disso, é nesse ponto que começa o desenvolvimento dessa base dramática, especialmente na sua relação distante com a filha. Esse passado do personagem nunca é demonstrado, apenas sugerido por suas falas. É uma motivação bastante clara e até necessária, porém acaba por ser superficial, algo na qual é pouco sentido ao fim.
Nesse quesito da formalização, o desenvolvimento das cenas sempre feitas em apenas um quadro e com transições temporais ajudam a gerar uma abordagem bem única. Em alguns instantes, essa questão gera a funcionalidade até a o limite disso tudo. Um momento bem relacionável a isso é a tensão causada nas sequências de um gore e horror mais diretos, principalmente com a primeira. Nela, já se estabelece uma questão importante para o medo tornar-se onipresente a todos os atos e ações. Além de gerar suspeitas nos leitores de possíveis desenrolares. Acaba pela trajetória do personagem principal ser derradeira dentro de sua mesma psicologia. Apesar de não ir a fundo, Roguidez coloca uma espécie de deteriorização social por todos os males vistos.
Dentro dos desenhos, também feitos pelo autor, há uma mistura de caricatura e bizarrice. Sob o protagonista e algumas outras relações em volta desse lado acabam por explorar personas mais esquisitas por “natureza”. É, novamente, a pavimentação desse horror social presente nas atitudes e sentidos de todos. Entretanto, o contratante acaba por ser o mais colocado nisso. Ele, do mesmo modo, tem um certo ar caricatural, porém acaba trazendo um quesito estranho ao passar do tempo. Durante todo o tempo, suas pequenas sutilezas de sadismo aparecem, trazendo um temor de possibilidades de agir de alguma maneira diferente.
Found Footage é uma HQ na qual sabe explorar bem alguns clichês e batidas do terror, especialmente do subgênero de câmeras encontradas. Marvin coloca esses elementos sempre a serventia de sua narrativa bastante formal e sem muitos desenvolvimentos paralelos. Pensando em um efeito de desenvolvimentos dos personagens, há um certo problema aqui. Todavia, na relação mais direta de mistura de iconografias, além da utilização da forma para contar a história, tudo é funcional para que o terror tenha êxito. Mas ele não é sobrenatural de maneira alguma. É palpável e está até dentro de nós mesmos.