Homem-Borracha e a comédia de situações
A metalinguagem e a comédia de situações ocorre há muito tempo nos quadrinhos. Talvez desde sua institucionalização como linguagem, esse uso foi recorrente nas mais diversas situações e circunstâncias do tempo. Mais recentemente, o personagem Deadpool acabou se concentrando como o grande expoente disso, especialmente pelo seus filmes. Nesse mais recente lançamento, a Panini traz para o Brasil o início da saga do Homem-Borracha, publicada no segundo semestre em terras americanas. Nela, novamente a fórmula dessa conexão metalinguística e cômica traz um papel principal para toda a consolidação da trama.
Na história, Eel O’Brian é um homem confuso. Em seu currículo constam trabalhos de capanga, golpista, ladrão, cafetão, dentre outras. O grande problema é que acham que ele está morto, após uma tentativa de assassinato arquitetada por seus companheiros de crime. Conseguindo sobreviver após ter sido jogado de um carro tendo tido contato com um líquido radioativo, ele adquire habilidades de moldar seu corpo. Agora ele precisa descobrir onde estão aqueles que tentaram matá-lo, ao mesmo tempo em que cuida de uma criança abandonada.
Quem comanda o roteiro é Gail Simone. Ela busca uma construção narrativa muito pautada em pouco desenvolvimento prévio e mais nos acontecimentos atuais envolvendo o personagem título. Isso funciona bastante no lado dessa comicidade, até trazendo situações onde a graça vem involuntariamente. Borracha, por si só, é muito engraçado e suas situações sempre acabam trazendo essa mistura de formas complementadas com algum díalogo ou pensamento. Essa mistura de situações, e até na própria forma, é a grande responsável pelo humor presente em toda obra. O grande problema está no outro lado, com o desenvolvimento e a base dramática em cima disso tudo. Ela é bastante perene, apenas feitas sob alguns poucos momentos de flashbacks. Não é relevante, para Simone, por exemplo, um entendimento sobre o porque de realizar tais atos ou do seu passado chegar nesse ponto.
A trama ainda consegue bastante trazer uma correlação interessante do protagonista e da criança. Ela aparece meio aleatoriamente logo no início (com, inclusive, uma tradução bastante inteligente da palavra ‘pistola’). Os dois acabam desenvolvendo a questão mais bonita de toda a HQ, com uma composição de ajuda um do outro. Enquanto a criança encontra um amigo e até uma figura paterna na sua frente, Eel busca nessa alguém para poder ouvir e não realizar um jugalmento moral mesmo, costumeiro no mundo adulto. Como falamos antes, essa edificação dramática pouco acontece, porém ela é bastante funcional nesse lado especificamente.
Os desenhos de Adriana Melo complementam bem toda a produção. Servem, principalmente, a continuar esse humor todo presente desde a capa. Os traços e gestos transformas algumas sequências de ação em uma gigantesca piada. Esse fato pode até ser ruim para alguns, todavia ele é bastante funcional para o entendimento geral da narrativa. O sequenciamento e essa transformação da forma até rememora bastante filmes na qual mistura ação e comédia dos anos 80 e 90, como Duro de Matar e Máquina Mortífera, por exemplo.
Nesse primeiro volume, publicado pela editora Panini, Homem-Borracha se mostra um personagem bastante diferente do que alguns poderiam imaginar. Pouco publicado e lembrado no Brasil, essa publicação poderia ser uma oportunidade de um maior conhecimento, entretanto não funciona muito para isso. É uma história muito mais interessada em uma intensa produção engraçada, podendo até lembrar fases mais atuais de Aquaman e Shazam! na DC. O pouco desenvolvimento dentro da narrativa e um certo arco meio perdido não ajudam a uma conexão ainda melhor para chegar até determinado ponto. Só o futuro pode dizer se esssa trama dará mais certo ou terá uma melhor concepção. Mas, os aspectos positivos aqui funcionam para fechar características intrínsecas aos personagens. Tomara que a borracha ainda possa esticar mais.