It é realmente uma obra prima do medo?

Era o ano de 1986 e o escritor já conhecido na época, Stephen King, publicou uma das suas mais famosas e renomadas histórias: It, ou como ficou conhecido no Brasil, It – A Coisa. O artista já se mostrava um mestre do terror e suspense desde Carrie, sua primeira publicação. Muitos dizem que a sua mente sempre criar histórias macabras está ligada a uma infância repleta de tragédias a sua volta, sempre com questões bizarras e aparições sobrenaturais. Mas, diferente do que ele tinha colocado até ali, essa história de um dos palhaços mais conhecidos de todos, é muito mais que sobre o medo a nossa volta e sim sobre o que esse medo representa para todos nós.

A história dessa obra talvez nem todos conheçam: se trata de um assustador monstro chamado Pennywise, que se fantasia de palhaço para alimentar-se de crianças. Após sofrerem uma tentativa de ataque desse ser, um grupo de crianças jura ir atrás do bicho. Sendo assim, quando todas estão adultas, resolvem finalmente realizarem o que prometeram.

A narrativa que King começa por sua aterrorizante genialidade na definição dos personagens. De um lado o “clube dos otários”, composto apenas por esteriótipos escolares, assim como em Clube dos Cinco. Um judeu, um gordo, um negro, um asmático, um nerd e um descolado. Todos eles possuem uma identidade que se perdura em toda a trama: a inocência. Do outro lado, o palhaço do mal, que passa medo e pânico apenas pelos seus olhares e aparições absurdas. Ele possui uma característica em toda a trama: o terror. Dessa maneira, em apenas definições de personalidades, o escritor define que sua história irá falar sobre amadurecer e ter o medo desse crescimento, de perder seus laços, amigos e etc.

Outra questão, ainda mais clara, é sobre a vingança da Coisa, na qual ele odeia a ideia dos adultos trocarem a inocência infantil pelo ceticismo. Stephen, assim, introduz a ideia religiosa de uma maneira muito sublime e obscura. O mais interessante de tudo é que não é apenas sobre religiosidade, mas crença em qualquer coisa, desde brincadeiras, até acreditar em ser capaz de algo. Ele leva então a uma das questões mais comuns dos humanos: o medo de ser fracassado. Até por isso, ele descreve de uma maneira tão detalhada a vida de cada um dos protagonistas. Quem eles são, o que fazem, o que buscam fazer e o quanto isso tudo causa interferência em seus futuros.

A humanidade está acostumada com livros na qual se acomoda no espaço confortável e It faz exatamente ao contrário com os leitores. É uma densa, gigantesca (literalmente, já que são mais de 1000 páginas) e extremamente tensa. É mais que uma obra prima do medo, é a face real de quem somos e do que buscamos nesse mundo, lidando com o maior medo nos perseguindo desde que somos criança. A pressão que a vida exerce sobre cada um é, as vezes, como um palhaço. Parece inofensivo por fora, mas guarda algo muito ruim por dentro. E é disso que o gênio do terror está falando.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *