Os desafios da contemporaneidade em The Twilight Zone (2019)

A série The Twilight Zone sempre foi um magnezitador de bastante atenção por parte dos fãs de terror, ficção-científica e fantasia. Em seus diversos episódios na primeira versão – na qual durou de 1959 até 64 – diversos temas foram abordados. Entretanto, os enfoques especiais existiam. É impossível falar da obra sem rememorar as divesas discussões de seu tempo, desde relacionadas a política até racismo, gênero e mais. Era um seriado proposto de falar dos desafios e colocações daquele período. O grande fato disso tudo é de, na contemporaneidade, pouco mudou. Essas questões, por muitas vezes, acabam por ser as mesmas. Sendo assim, a versão de 2019 do seriado não poderia esquecer disso tudo.

Com 10 episódios, a primeira temporada da produção é narrada por Jordan Peele. O clássico Rod Serling, catalizador desses problemas do período, da espaço para o ascendente Peele. Aliás, é interessante essa escolha em um sentido mesmo de carreira, pelo fato dos dois filmes dirigidos pelo diretores abordarem discussões na qual poderiam estar presentes aqui. Até em sua formalização abre espaço para a presença aqui. Entretanto, outras vozes, agora atuais, observam os temores de nosso mundo.

O lado político parece quase onipresente aqui em diversas correlações. Obviamente alguns episódios buscam sua narrativa mais independente, todavia alguns abordam isso diretamente na sua história. E isso acaba por, diferentes de muitos momentos das anteriores, gerar finais até deveras positivos. Um exemplo claro é “Replay”, em que aborda sobre resistência ao racismo. Ao falar sobre a fatalidade da fuga de um policial branco aonde, independente da volta do tempo e das diferentes linhas, acaba aparecendo na vida dos personagens, o seriado coloca isso em cheque. Será que realmente existe como não ser inevitável esse acontecimento na atualidade? Bom, toda a resolução demonstra um engajamento possível apenas pelos tempos atuais. Não chega a ser uma possibilidade findoura, porém novos caminhos estão abertos.

Apesar disso, um dos melhores e mais irônicos na exploração política é “Point of Origin”. Nesse, a colocação dos imigrantes acaba por ser a pauta chave do desenrolar dos acontecimentos. Obviamente, tudo isso também se centraliza a críticas do pensamento de Donald Trump de construção do muro perante o México. Mas, o mais interessante no desenvolvimento acaba por ser o fato da imigração fazer parte intrínseca da humanidade em si e não de pessoas. Na resolução, existe uma pequena faísca sobre, como diz na fala de Peele do episódio, o “fato de todos sermos imigrantes”. A acusação feita por uma pessoa, pode representar contra a mesma. Trabalhando isso, mostra-se quase um fardo a ser carregado pelas mais diferentes pessoas.

Apesar disso, existem sim alguns capítulos meio perdidos em toda proposição sobre atualidades do mundo. “Six Degrees of Freedom”, “Nightmare at 30,000 Feet” e “A Traveler” são alguns desses exemplos. Apesar de chegarem a tentar tocar em algumas conexões temáticas, acabam por ser simplesmente uma trama muito mais direta. Isso não seria um problema, a grande questão é que a obra demonstra sua abordagem de discussão em um sentido, fugindo nesses pontos. “Nightmare at 30,000 Feet” talvez seja o mais claro nisso, por ser uma refilmagem de um da original. Na tentativa de trazer algumas indagações dos anos 60, tudo parece meio perdido. Enquanto no primeiro, se pode realcionar ao machartismo, aqui há apenas pensamentos mais diretos de gênero mesmo.

Em The Twilight Zone (2019) há uma tentativa de buscar como a contemporaneidade pode ser abordada em temas do fantástico. Apesar de não contribuir diretamente nos episódios, toda a força de Jordan Peele na produção demonstra ainda mais como a temática social possui uma relevância aqui. Apesar de alguns episódios fora de um conceito meio original, ainda existe uma tremenda coesão narrativa onipresente. Esses temores e tensões da sociedade atual se vislumbram em um ponto único. Por isso, no episódio final, toda essa correlação acaba sendo a própria metalinguagem. Isso tudo, parece estar além da nossa imaginação, mas apenas reflete nossos tempos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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