Resenha – A Mulher em Mim (Britney Spears)
Pelas mídias e redes o que não faltam são histórias sofridas e difíceis por parte das celebridades que conhecemos. Desde aquelas que tiveram que enfrentar algo difícil na infância, até a perda de um parente, ou mesmo quem precisou cair e levantar para chegar até onde chegou. Mas também há casos de pessoas que, apesar do estrelato, sempre conviveram com pesos e complicações ao longo da vida. Apesar da fama, sempre foram alvo de ataques por todas as partes, mesmo sem nenhum reconhecimento do que estava acontecendo. Uma dessas maiores histórias é a da cantora Brintey Spears.
É até meio impressionante perceber que Britney tenha 41 anos. Pelo tanto que já viveu, parece que a idade é ainda maior. Junto a isso, seu início meteórico de carreira, passando pela Disney e lançando o primeiro álbum …Baby One More Time em 1999, quando ainda era menor de 18 anos. A trajetória profissional tem apenas 24 anos, contudo foi marcada por muitas e muitas reviravoltas e altos e baixos. Talvez, até mais baixos do que altos, muito por conta da sua relação com a família, essencialmente com o pai, Jamie Spears. Esse, que teve a tutela da artista desde o fatídico momento que ela raspou o cabelo. Tão criticada, precisou de muita força para conseguir se libertar da tutela e ter sua própria vida. E, com isso, escrever A Mulher em Mim, seu livro de memórias.
Aliás, é até complicado dizer que é necessariamente uma biografia. A ideia de livro de memórias parece fazer mais sentido com o que Britney Spears se propõe a contar aqui. Direamente, fala sobre um pouco de tudo. Porém, definitivamente soa como uma obra que busca ser uma desabafo sobre toda a família – ela cita um por um dos integrantes em situações que geraram constrangimentos e problemas a ela. Ou seja, para aqueles que vão ler atrás dos bastidores de algum clipe ou um disco, talvez podem se decepcionar. A artista tem a ideia bem clara de se mostrar como alguém aberta, capaz de contar de tudo. Entretanto, ainda parece segurar algumas informações sobre a relação com outros artistas, já que a vida familiar fica toda escancarada.
Na metade inicial, é um texto mais voltado a repassar o início de sua trajetória na música, mas, principalmente, a relação com Justin Timberlake (a qual ela chega a dizer que tinha uma paixão platônica). Mesmo soando irônica em certos instantes – ao falar de algumas atitudes -, além de entristecida em outros – quando aborda o aborto que fez após ficar grávida dele -, há uma certa sensação de memória afetiva, como se não achasse ruim esse momento que viveu. Britney chega a defender e deixar claro que talvez ele realmente tenha sido o amor da vida dela.
Se na primeira parte esse é o grande personagem, na segunda Jamie ganha seu protagonismo. Tratado como uma figura com poucos momentos de ternura e a maioria de rigidez, fica claro como A Mulher em Mim foi escrito para falar sobre a libertação da cantora. Ela revive sempre algumas situações, como a que o pai diz “Eu sou a porra da Britney Spears”. Entretanto, ela não teme dizer os motivos de ter se submetido a tudo isso: seus filhos. A chance de se aproximar deles, de ter alguns dias junto, era fundamental e o combustível para que a jovem continuasse aceitando tudo. Até mesmo uma exploração de trabalho, ao fazer turnês em sequência quase sem férias. A cor do dinheiro? Ela viu muito pouco. Apesar de também deixar bem evidente que praticamente tudo que a família tem atualmente é por conta da sua carreira.
Por isso mesmo, é bem claro a forma como a produção está direcionada a ser uma espécie de respiro. Ser uma tentativa de Britney gritar para os fãs que (ainda) está viva, mesmo com tudo que passou. Dela mesmo mostrar que pode ser mais do que apenas uma filha aprisionada a seguir contratos, e repetir os mesmos dias. Não a toa, ela até mesmo entra na defensiva para falar das postagens que fez desde que acabou a tutela nas redes sociais, em que se mostra liberta.
A Mulher em Mim peca ao ficar no meio do caminho de ser realmente um grande livro revelador sobre tudo. Peca também em talvez não destrinchar ainda mais a própria carreira de sua personagem principal. Todavia, como dito anteriormente, Britney Spears claramente não queria isso. Queria mostrar que ela ainda existe e pode ser algo. E que tudo que construiu também é fruto do seu trabalho, do que fez para estar sempre presente. Para os haters, é uma espécie de demonstração de como ela é um dos maiores nomes não apenas da música popular americana na história, mas da cultura popular dos Estados Unidos. E, que bom, que ela está viva para contar essa história.