Resenha: Tiger Lily, de Jodi Lynn Anderson

Desde o lançamento de Alice no País das Maravilhas, adaptação da clássica história dirigida por Tim Burton, os contos de fadas voltaram com tudo. Embora isso seja mais perceptível no cinema, com as versões “sombrias” de contos clássicos e os live-actions da Disney, a televisão e a literatura também foram contaminados com a febre mágica. Reimaginações trazendo a Cinderela como uma ciborgue (a série Cinder, de Marissa Meyer), sequências indiretas e histórias voltadas a personagens secundários ou vilões hoje lotam as prateleiras de livrarias e bibliotecas. Tiger Lily é um desses casos.

O livro traz a história de uma das diversas figuras que povoam a Terra do Nunca, a ilha onde acontecem as aventuras de Peter Pan. Na peça original de J.M Barrie, Tiger Lily é uma índia, amiga do menino perdido, que é sequestrada por Capitão Gancho e usada como isca para capturar Pan. Sua participação na história original, assim como nas milhares de adaptações que a sucedem, é pequena (e no caso da animação da Disney, até mesmo um pouco problemática).

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Jodi Lynn Anderson, por sua vez, resolveu mergulhar de vez na mitologia da ilha e trazer uma nova faceta a esta personagem, até então um pouco desconhecida. Conhecemos a protagonista pela visão de Sininho, que é quem narra a história. Tiger Lily é a filha adotiva de Tic-Tac, o xamã da tribo dos Comedores de Céu, uma das poucas tribos de índios que habitam a perigosa e mítica Terra do Nunca. Embora tenha grande carinho por seu pai e pelos poucos amigos que possui na aldeia, Tiger Lily é muito solitária, sempre desafiando as ordens e costumes que a tribo insiste em forçá-la a seguir.

Tudo muda quando um navio cheio de náufragos vai parar na praia. A curiosidade de Tiger Lily acaba sendo maior que seu bom senso, o que a leva a ser prometida em casamento ao homem mais detestável da ilha, Gigante. A jovem tem os dias contados até seu casamento e achava que nunca mais iria ser feliz na vida. Até ela conhecer Peter Pan e os meninos perdidos. A lenda que corre a floresta diz que são perigosos e selvagens, mas não é isso que Tiger Lily encontra ao conhecê-los e tornar-se amiga deles. Enquanto Pan e Tiger Lily desenvolvem um laço mais forte, conspirações e problemas crescem na ilha e na aldeia.

O que talvez seja o maior triunfo da narrativa de Anderson é sua capacidade de trazer toda a atmosfera fantástica de Peter Pan a um cenário mais realista e sombrio. Ainda que a mágica ainda esteja lá, com suas criaturas misteriosas como sereias e fadas, esses elementos são reduzidos, servindo mais como um fator extra à trama do que aquilo que realmente a move. A autora mergulha profundamente na personalidade, no passado e nos sentimentos de todos os personagens, tornando-os heróis e vilões mais complexos e interessantes. Somando elementos mágicos a uma trama fortemente fincada no coração de seus protagonistas, Tiger Lily poderia até ser encarada mais como uma história com toques de realismo mágico do que fantasia em si.

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A prosa de Anderson é riquíssima. É uma narrativa que equilibra bem uma linguagem objetiva que sabe trazer as dimensões que os eventos estão trazendo aos personagens, mas sem sacrificar momentos mais líricos ou poéticos, ou até mesmo mais difíceis. Ainda que seja um livro Young Adult (recomendado para Jovens Adultos), ele traz temas como abuso, religião (e a imposição de uma sobre outra) e diversidade sexual.

Tiger Lily é um livro surpreendente, com uma história mágica e triste. Com seus cenários idílicos e uma rica galeria de personagens interessantíssimos, este livro vai partir seu coração de uma maneira com que você queira passar por isso todos os dias.

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