Aladdin e a virtude do básico
Iniciado há alguns anos, após o êxito na adaptação de Alice no País das Maravilhas, em 2010, a Disney vem aos poucos consolidando seu projeto de readaptação de suas histórias animadas para versões live-action. O recente lançamento de Dumbo, após outras grandes apostas como A Bela e a Fera, Mogli, e até mesmo o vindouro Rei Leão, demonstra quanto o estúdio está apostando alto no fortalecimento de suas novas versões.
Já era de se esperar, dessa forma, que em algum momento o estúdio arriscaria suas fichas em uma de suas histórias mais conhecidas do grande público: a de Aladdin. Lançado originalmente em 1992, a adaptação do conto Aladim e a Lâmpada Maravilhosa – presente na coletânea As Mil e Uma Noites -, já se consolidou como um dos grandes clássicos animados dos estúdios Disney.
Tanto na animação, quanto nesta nova versão, acompanhamos a saga de Aladdin (Mena Massoud), um jovem ladrão que vive de pequenos roubos pelas ruas do reino de Agrabah e, na qual em um de seus golpes, se apaixona pela princesa Jasmine (Naomi Scott). Isso tudo sem saber que a mesma é filha do Sultão (David Negahban), governante do local. E em uma visita a moça, acaba sendo capturado por Jafar (Marwan Kenzari), grão-vizir do governante, que acredita em sua capacidade de realizar o resgate de uma lâmpada mágica capaz de conceder desejos ao seu dono.
Ainda que adaptar um personagem tão icônico para uma versão em carne e osso seja complicado, Mena Massoud entrega um protagonista carismático, não devendo em nada ao protagonista original. Em seu primeiro grande papel em hollywood, o ator imprime uma divertida performance na construção de Aladdin, encantando pela naturalidade. Esse fato, para alguns, pode se destoar do tom quase teatral proposto pelo diretor Guy Ritchie, que perpassa por todos elementos da obra.
Aliás, tal escolha é um dos fatores responsáveis por criar uma Jasmine – inicialmente – pouco crível. O primeiro ato não favorece muito a princesa, derrapando em sua composição e apresenta uma personagem sem a força esperada. Porém, ao decorrer do longa, Naomi Scott se mostra mais confortável e faz Jasmine crescer absurdamente na trama.
O grande destaque fica por conta de Will Smith. A performance do astro como gênio rouba para si todos os holofotes, e garante os momentos mais divertidos do longa. Marwan Kenzari é o elo fraco do elenco, seu Jafar apático e caricato faz o vilão perder o charme, o magnetismo e o tom ameaçador de sua versão animada.
O roteiro, escrito pelo diretor em conjunto a John August (de A Fantástica Fábrica de Chocolate), não reinventa ou agrega muitas novidades ao original, o que não se torna um problema devido a trama rápida e sem firulas. Nenhuma das relações entre os personagens é aprofundada e suas motivações são criadas de maneira simples, entretanto nunca se tornando vazias ou desinteressante. Ainda que mantenham o tom maniqueísta de histórias do tipo – o que facilmente poderia se tornar um problema, a narrativa encontra seu grande trunfo no carisma de seus personagens. O clima divertido e irreverente é construído naturalmente e as piadas estão bem encaixadas, ainda que a construção de um senso de perigo seja falha até o último ato.
Visualmente encantadora, essa versão do conto opta por adicionar mais cores a sua encenação. O vasto e imponente Agrabah ganha tons fortes e encantadores, auxiliando no processo de criação da “vida” do megalomaníaco reino. A preferência por tal estética ajuda a compor o enfoque fantástico da aventura, que se torna ainda mais evidente devido a teatralidade em que a história é ajambrada. Tanto na concepção de cenários quanto em efeitos especiais, há uma certa superficialidade que se torna até um charme.
Por sinal, os instantes musicais são bem pontuados e engrandecem ainda mais a narrativa. Alguns podem emocionar os mais nostálgicos, como na bela apresentação de “O Mundo Ideal”. Também vale destacar a ótima inédita “Speechless”.
Aladdin certamente representa mais um acerto da Disney em sua nova era. Apesar de não agregar grandes novidades à história do jovem ladrão, o live action é capaz de trazer um frescor ao que há de positivo em seu material base. Ainda que não seja inesquecível e, tampouco, possa se tornar um clássico como a animação, seu maior mérito está em aproveitar e engrandecer seus elementos mais básicos com altas doses de carisma de seus personagens. Pode ser sintetizado como um grande e divertido clichê – o que é ótimo.