Crítica – Indiana Jones e o Chamado do Destino

Lançado em 2021, Beckett é um filme de ação dirigido por Ferdinando Cito Filomarino e protagonizado por John David Washington no papel de um homem que se vê em meio a uma grande trama de espionagem e política na Europa. Usando esse elemento como ponto de partida, o longa tem na sua estrutura uma ideia base de brincar com os cenários “deslumbrantes” como maneira de soar crítico e, ao mesmo tempo, nunca parar, evitar o respiro do telespectador. Esse preceito recorda bastante Indiana Jones e o Templo da Perdição, segunda produção da franquia dirigida por Steven Spielberg. Da mesma forma, ele se usa dos cenários aparentemente turísticos apenas para colocar o telespectador em uma rota de colizão com um submundo – esse, porém, mais fantástico.

Ao esperar algo de Indiana Jones e o Chamado do Destino, o novo filme da saga, talvez o público venha com uma ideia da cabeça do cinema de ação contemporâneo, que usa e abusa dos cortes como ferramenta narrativa. Ao mesmo tempo, buscando ser inventivo com essa mesma ideia, algo que a franquia Missão: Impossível e John Wick tem conseguido realizar. Entretanto, James Mangold busca replicar o que Spielberg fez para transformar a saga em tão único: reunir Indy (Harrison Ford) em uma trama sem tempo para respiro.

E isso aparece desde a cena de abertura, que serve para colocar a audiência em contato com a nostalgia. O protagonista em meio ao fim da Segunda Guerra Mundial, rejuvenescido por computação gráfica, numa trama de ação fugindo de nazistas. Parece familiar? Pois essa é justamente a ideia. O diretor, logo de cara, transforma esse momento primordial em menos uma apresentação do que virá pela frente propriamente, e mais um respiro para um público que quer ver Indiana Jones em ação. Contudo, quando retomamos o tempo presente com ele mais velho, é como se a realidade se impusesse. Agora, a jovialidade não é mais presente nele, e sim em todos a sua volta: em Helena (Phoebe Waller-Bridge) e até mesmo no vilão clichê Dr. Voller (Mads Mikkelsen) e seus capangas.

Em Indiana Jones e o Chamado do Destino, o personagem título precisa reunir as peças da Máquina de Anticítera que estão espalhadas globalmente. Desse jeito, ele pode impedir Voller do seu plano de dominação dos nazistas novamente em todo o planeta. Trama rocambolesca e um MacGuffin? Check. Novamente, repetições, reverberações e uma busca em querer retomar tudo de maior sucesso em toda a saga.

É preciso ser justo em como Mangold até tenta transformar a encenação em uma mistura do passado e do presente, quase como que, em certos pontos, Indy necessitasse passar o bastão para alguém seguir adiante. Essa é Helena, que tem uma relação próxima no passado com ele (mais uma vez as referências e memórias tomam conta, em busca de se conectar a audiência que reconhece a franquia). Contudo, o maior problema é que essa junção nunca parece realmente funcionar. Inicialmente, porque a conexão dramática dos dois personagens é feita de uma maneira agilizada, sendo necessário, a todo instante, que o filme volte a discutir o assunto para tentar avançar em algo. Segundo, porque em momentos a personagem soa deslocada de um universo particulamente ultrapassado, como se fosse uma novidade apenas por ser – a sequência dentro de um leilão de peças antigas mostra bem isso.

Sem nada para se apoiar, resta ao longa reverberar a ideia citada neste texto, de sequências de ação ininterruptas. De novo, tentam aliar algo velho e novo, especialmente no uso do digital e ao brincar em renovar elementos clássicos do personagem título (a cena do mar com a brincadeira das cobras). Entretanto, se tudo de início parece ser muito deslumbrante, as coisas vão cansando, e a empolgação vai virando apenas cansaço em um filme já grande para os parâmetros da saga – tem 2h30min.

Longe de Indiana Jones e o Chamado do Destino ser o fracasso que foi apontado por muitos antes de assistí-lo. Porém, em uma eterna busca de ser equilibrado, James Mangold parece não conseguir chegar a lugar nenhum. Certas coisas até funcionam de forma separada, como os novos personagens, o clímax, os dois primeiros momentos de ação. O problema é que eles estão dentro de um filme, que aparenta estar sempre precisando de algo novo que não consegue se encaixar. O diretor busca querer rememorar Indiana Jones e o Templo da Perdição em querer ser desenfreado, e sofre do mesmo mal de ir caindo ao decorrer dos acontecimentos. A diferença é que ele não é Spielberg.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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