Crítica – Tinnitus

Tinnitus, a condição, diz respeito a um som constante parte interna do cérebro. Um barulho insistente cujo o principal tratamento, até o momento, é uma terapia para se habituar a ele, tornando o som parte da sua vida, um barulho de fundo. Como crítico, é importante que eu preste atenção na obra que assisto, assim, começo esse texto declarando que foi um esforço para não deixar que Tinnitus, o filme, se tornasse um plano de fundo.

O que é uma verdadeira pena, pois a obra do diretor e roteirista Gregorio Graziosi possui um alicerce interessante, acompanhando Marina (Joana de Verona), uma atleta de saltos ornamentais que, após um pulo mal executado, adquiriu a condição título e precisou se afastar das piscinas, mas não inteiramente. Ela segue próxima às águas, atuando como sereia em um aquário, enquanto busca lidar com a doença, por meio de grupos de apoio e consultas médicas, quase sempre acompanhada de seu marido, médico otorrino.

No entanto, o passado retorna, por meio de outra atleta, Teresa (Alli Willow), e a protagonista ensaia uma volta ao esporte, mesmo com o tinnitus ainda atrapalhando sua existência plena.

Há um mix de referências na obra, que vai de David Lynch, com Cidade dos Sonhos sendo uma referência mais óbvia, até Ingmar Bergman, pegando emprestado a ideia de duas mulheres cujas identidades parecem se confundir conforme a narrativa progride de Persona. Ah, isso sem esquecer dos paralelos com Cisne Negro, lidando com um cenário altamente competitivo e desafiador, olhando os impactos que isso tem na vida de uma mulher.

Mesmo com as boas referências, falta a Tinnitus algo próprio, que dê um pouco de vida ao filme. Os primeiros momento são interessantes, com Graziosi construindo uma sensação de estranheza por meio do esporte, com a rigidez das composições contrastando com os movimentos fluidos das atletas durante o mergulho, e há uma busca por inventividade nesses momentos, o que é extremamente bem vindo, visto que o principal problema da produção é uma eterna monotonia, onde o filme parece ter vergonha de abraçar de fato as tensões sexuais presentes na história, assim como o terror psicológico, e prefere manter uma distância dos acontecimentos.

A fotografia do filme prioriza a rigidez, tudo é muito bem delimitado pelas linhas, seja de passarelas, das rampas de salto, as divisões de um cômodo qualquer. Tudo muito sóbrio, de bom gosto, que revela uma preocupação em fazer um filme esteticamente “bonito”, o que consegue, mas resulta numa obra fria e sem graça, cujo suspense nunca ganha substância o bastante para ser intrigante, e acaba até esquecendo de alguns personagens ao longo do caminho. Antônio Pitanga parece estar ali só para conferir algum status, uma vez que seu personagem só emite falas cripticas que somente confundem, e não de uma maneira boa, como nos filmes de Lynch, por exemplo.

Tinnitus é interessante, pois parece colocar as coisas em foco, mas acaba sendo tarde demais, já que entre o bom início e o bom final, há todo um meio que evita qualquer emoção mais forte. Como disse ao começar o texto, um enorme desafio para não transformar o filme em um belo plano de fundo.

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