Crítica – The Idol (Primeira Temporada)

Antes mesmo da sua estreia oficial, a série The Idol colecionou expectativas e polêmicas. No primeiro campo, por ser um projeto do diretor e roteirista Sam Levinson, que ganhou extremo destaque nos últimos anos pelo sucesso de Euphoria. Além disso, seria um primeiro projeto mais “sério”, por assim dizer, de The Weeknd dentro do campo das séries e filmes. Contudo, as polêmicas também se amontoavam, já que a cineasta Amy Seimetz acabou sendo demitida do projeto, mas saiu criticando o olhar masculino contra as mulheres que veríamos em tela. Em meio a isso tudo, as primeiras impressões também falavam mal, o que fez o músico que deu renome para a obra chegar a postar vídeos para “valorizar sua atuação” nas redes.

Quando o externo parece mais forte que qualquer burburinho positivo sobre o seriado, as coisas parece que vão desandar. Em termos de público, isso é um fato. Desde o início de sua exibição, só vem perdendo audiência, seja na HBO ou no streaming HBO Max. De toda maneira, isso poderia não ter nada a ver com a qualidade por si só. O maior problema é como toda a condução dos cinco episódios – que seriam seis originalmente – parecem querer usar o artifício do absurdo e da polêmica para chamar atenção a si própria.

The Idol fala sobre o processo criativo de Jocelyn (Lily-Rose Depp), uma cantora pop que teve colapso nervoso em uma última turnê e está atrás de se reinventar. Por isso, quer criar um disco novo, clipes novos e uma atmosfera inteiramente diferente para a nova fase da carreira. No meio disso, ela acaba conhecendo o estranho Tedros (The Weeknd), um homem que parece a mistura de um cafetão com um produtor musical. Com comportamentos agressivos, ele acaba ajudando ela nas novas produções, além de outros amigos próximos.

A todo instante, a série soa como um grande pastiche de uma verdadeira crítica a indústria musical. É claro como essa parece ser a intenção dos criadores, na forma como os contratos e as grandes empresas controlam tudo e, ao mesmo tempo, como as mulheres cantoras sofrem até mesmo com possíveis amantes. Entretanto, a direção de Sam Levinson faz com que todos os capítulos soem sempre algo esteticamente estranho. Ele parece querer ressoar um trabalho como de Nicolas Winding Refn em O Demônio de Neon. Sendo tudo extremamente plástico (as relações, as músicas, os personagens), é como se nada nesse universo fosse de verdade, possível de acontecer.

Com esse olhar fantástico, ele se permite ter uma visão mais sexualidade perante as mulheres do mundo. São muitas as cenas de sexo que buscam focar apenas nas partes femininas, especialmente com a personagem de Depp. O diretor parece gostar de mostrar o desconforto dela em alguns momentos. O único homem que aparece sexualizado é um dos cantores dos amigos de Jocelyn, Izaak (Moses Sumney), um homem negro. A partir do momento que tudo é esteriótipo e fantasioso, nada parece querer ser verdade. Desse jeito, a série esvazia a própria crítica que é o mote principal. Então a indústria da música é apenas fantasia? Os abusos, sexualizações e dominações são apenas mentiras? O próprio argumento se torna confuso.

Apesar disso, é até curiosa a forma como Levinson carrega os primeiros episódios. Se depois tudo se transforma em um neo-thriller barato, inicialmente ele tenta reconquistar os suspenses eróticos dos anos 1990 – caso de Instinto Selvagem, Proposta Indecente, Atração Fatal e Garotas Selvagens. Ao buscar isso, ele se usa de uma sensualidade iminente em todo esse universo, através da ideia de dominação. Assim, não apenas os homens entram nesse contexto, mas também as mulheres produtoras ou até donas das grandes corporações, como possíveis de controlar esses corpos (a enfâse dada na cena da gravação do clipe no primeiro capítulo reforça isso).

A proposta de Sam Levinson em The Idol poderia até ser algo realmente curioso ou interessante. Até porque suas bases de referência caminham nesse sentido. Até mesmo a própria temática e os nomes famosos envolvidos quase gabaritam o seriado para ser um sucesso por si só. O problema é que tudo isso não está atrelada a forma como cineasta transforma a encenação em quase uma paródia de si mesmo. Sendo assim, a crítica fica vazia, os questionamentos ficam vazios. E no fim das contas, só resta a pergunta: por que existe?

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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