Crítica – Lov3 (Primeira Temporada)
A proposta de Lov3 é tentar ser uma série sobre a diversidade. Esse conceito está bem claro desde a escolha dos atores, da forma da produção e até mesmo pela dinâmica dos acontecimentos logo no início. É uma grande tentativa por parte de Rita Moraes e Felipe Braga de criar uma produção que vá explorar os vários jeitos de realcionamento do mundo moderno. Por isso acompanhamos a trajetória de três irmãos após o fim de um casamento super tradicional de seus pais (que durou 30 anos) chegar ao fim. Eles agora vão precisar buscar uma nova maneira de se tornarem independentes dos familiares e de si mesmos.
Cada um tem um tracejo para explorar do amor contemporâneo. Beto (João Oliveira) é gay, só que nunca teve relações muito boas com homens e busca algo além de apenas sexo. Porém, sempre foi totalmente dependente psicologicamente de Sofia (Bella Camero). Essa, por sua vez, a mais liberal dos três. Bissexual, ela começa a querer explorar uma vida nova e, ao mesmo tempo, acaba se envolvendo com um trisal em que começa a morar junto. O maior problema é que ela não faz parte dessa relação. Por fim, Ana (Elen Clarice) tem um casamento bem estruturado, mas que está ruindo aos poucos. Ela, então, decide propor uma relação aberta.
Se Lov3 tem uma proposta inteiramente liberal nas relações, por assim dizer, é totalmente conservadora em outro sentido. Na sua proposta de trabalhar essas questões, essas relações, a série, ao longo da primeira temporada, é sempre formatada para tratar aquilo sob um aspecto de julgamento. Em certo sentido, de riso, até meio ironicamente olhando para esses fatos. É uma produção de comédia e isso poderia gerar uma percepção diferente, contudo acaba trazendo ao bobo tudo que quer discutir. O maior exemplo é com o único irmão homem, que parece querer o impossível dentro do mundo gay e é exposto sempre ao ridículo.
Obviamente não há intenção de realizar algo assim. Todavia, é uma coisa que vai aparecendo no desenvolvimento de cada uma das condições dramáticas. O seriado até consegue explorar bem todos os problemas antigos de relacionamento com a mãe Baby (Chris Couto). Só que é apenas mais uma coisa para reforçar quase uma “anormalidade” familiar, como se todo esse passado construísse o presente desses personagens. É um grande joguete que não consegue sair de um discurso bem único e preconceituoso da maneira como as diferenças expressões amorosas e de relacionamento são construídas. Aliás, tudo dá errado nessas buscas individuais deles, o que reforça, novamente, a contrariedade do discurso.
O mais impressionante é perceber como a questão que mais funciona é a relação do trisal com a protagonista Sofia. É um grande ponto chave para um entendimento de como os episódios querem olhar todo esse debate sobre um mundo contemporâneo. Os períodos de interação dos três com ela são os poucos em que a produção sai de um pedestal sobre o “verdadeiro” e consegue conduzir um diálogo e explanar melhorar as relações amorosas ali no meio. Como pode existir algo além de sexo dentro daquilo tudo. Porém, se resume a muito pouco.
A primeira temporada de Lov3 funciona justamente nos seus menores enfoques. E esse é um gigantesco problema para uma série que busca justamente ser a frente, progressista e está atrás de normalizar as três relações apresentadas. No fim das contas, acaba gerando um maior esteriótipo e reforçando alguns preconceitos que tenta até mesmo disputar. E poderia até haver uma crítica que estamos abordando uma obra de comédia e que vai atrás de divertir o telespectador, todavia é tudo feito sempre parar rir de uma situação que se quer transformar em comum. A narrativa se virou inteiramente contra a história.