Resenha – Ciclone (Juliette)
No início de agosto, em entrevista para o início das divulgações de Ciclone, o aguardado disco de estreia, Juliette Freire disse que nordestinos eram barrados da música pop nacional. Falando para a Folha de São Paulo, ela defendeu que a indústria musical vê os cantores do nordeste como quase unicamente de forró, não contemplando a multiplicidade possível de gêneros em todo o país.
Claro que ela não está errada em sua afirmação. O esteriótipo colocado para pessoas nascidas na região, gera problemas de estigmatização sobre o que devem fazer. Mais do que isso, sobre como devem se comportar. Em certo sentido, talvez por isso o lançamento desse seu primeiro álbum contraste tanto com o EP Juliette, publicado em 2021, pouco após a artista ter vencido o BBB21. Nesse, ela reforçava elementos musicais clássicos da música nordestina, como o triângulo, sanfona e mais. Dois anos depois, a cantora parece ter buscado mais seu lado pop, relembrando o passado mais a pinceladas
Isso fica claro quando, antes de ouvir, olhamos as parcerias. Marina Sena, Dilsinho, João Gomes e Nairo. Todos nomes gabaritados atualmente no cenário da música popular do país inteiro. Ao pararmos para escutar o que Juliette trará, as coisas se repetem um pouco, com as batidas eletrônicas e uma produção muito forte, na qual a voz dela quase sempre soa distorcida – destaque para a faixa título “Ciclone”, neste sentido.
Se soa comum e até meio sem identidade, é fato que a artista consegue fazer Ciclone ter seus momentos. A abertura e single “Sai da Frente”, a parceria com Sena em “Quase Não Namoro” e “Ninguém”, por exemplo, conseguem construir algo na qual a cantora parece ter: uma forma de contação. Quando tenta explorar mais suas qualidades vocais, já reconhecidas, parece que fica perdido. Quando explora uma forma de cantar quase brincando com as estrofes, tudo fica mais interessante.
Ao mesmo tempo que critica, Juliette também parece ter entrado de vez nesse universo do pop. É fato como a produção abraça esse elemento na própria estética da artista, e de uma maneira até interessantemente feita. Desse jeito, as composições reforçam sempre um debate sobre relacionamentos, sendo a eu-lírica como alguém sempre em um turbilhão de emoções de relacionamentos, porém nunca insegura de si. Em “Nós Dois Depois”, ela diz no refrão “Primeiro eu, eu; Nós dois depois, pois; Você já me entendeu; Não vou esperar por alguém que já foi”. Já em “Beija Eu”, fala que “Teu beijo é bom a ponto de eu querer de novo; Mas não a ponto de dizer que amo”. É sempre uma figura atrás de relações, inteiramente segura do que quer: curtir, elemento recorrente no cenário pop.
Em Ciclone, Juliette Freire definitivamente dá um primeiro passo para mostrar quem é no cenário musical nacional. Definitivamente, aparenta ter algo a falar, a abordar, apesar de soar ainda mais comum do que qualquer coisa. Apesar se soar diferente de seu EP de estreia, falta ainda alguma substância que a mostre definitivamente. Alguns desses caminhos estão presentes aqui nesse disco. Agora, é ver se a artista vai seguir por esse lado ou não.