Crítica – Scott Pilgrim: A Série

Quando foi anunciada que a série de animação da Netflix de Scott Pilgrim contaria com todo o elenco do filme fazendo a voz dos personagens novamente, foi automaticamente criada uma relação com o longa de 2010, dirigido por Edgar Wright. Não teve um fã que não esperasse que as coisas não pudessem se conectar, afinal, além do envolvimento deles, Wright atuava como produtor executivo. Tudo se encaixava. Da mesma forma, os fãs mais fervorosos da HQ original esperavam já que fosse uma obra mais próxima do material fonte, visto que o criador Bryan Lee O’Malley era um dos roteiristas e pensadores dessa adaptação.

Se cada um esperava uma coisa, o melhor aconteceu. Scott Pilgrim: A Série não é nem um, nem o outro, ele segue o próprio caminho. Em um momento que adaptações são disputadas e criticadas por ou soarem próximas demais do material de origem ou afastadas do mesmo, o caminho do meio aqui transforma a animação (ou melhor dizendo mais diretamente, o anime) em algo único. E para além disso, já que o objetivo é, inevitavelmente, trazer elementos das duas obras. Com isso, se gera uma possível nova história, nova relação.

Cena de Scott Pilgrim: A Série

Esses oito episódios aqui começam até bem similares, com a apresentação de Scott (Michael Cera) enquanto um jovem adulto meio atormetado que conhece e se apaixona por Ramona (Mary Elizabeth Winstead). Junto a isso, ele, para tentar conquistá-la, precisa lutar diretamente contra uma liga de ex-namorados do mal dela que querem pedir qualquer relação romântica da mesma. Se o grande trunfo anteriormente era a forma como Scott se desenvolvia enquanto o personagem que vai aprendendo e enfrentando novos desafios – como em um game -, aqui a coisa muda de figura. Ao lutar contra Matthew Patel (Satya Bhabha), o protagonista morre. Mas a menina acredita que as coisas podem ter sido diferentes e resolve investigar a história.

Desse jeito, o roteiro de O’Malley e BenDavid Grabinski, e a direção de Abel Gongora, focam em uma espécie de nova versão em Scott Pilgrim: A Série. Versão essa comandada por Ramona Flowers, como uma protagonista ativa. Muito criticada ao longo do tempo como personagem feminina, o seriado soa como uma reposta para enxergar a possibilidade de protagonismo da mesma. Não a toa, até mesmo o final, que vou evitar falar aqui por conta de spoilers. O que é possível dizer é que os oito episódios do anime se transformam em uma grande jornada da agora personagem principal para observar seu passado. Esse que é diretamente mediado por esses homens e mulher que apareceram em sua vida, mas que não a definem de forma alguma.

Até mesmo por isso, a trama tenta diversificar a perspectiva também desses “vilões”, que aqui não chegam a ser maléficos, como soam em outros momentos no filme e no quadrinho. Na realidade, são figuras que nem entendem bem os motivos de estarem fazendo aquilo tudo, quase como se fossem obrigadas pela sociedade. O maior exemplo disso é Todd (Brandon Routh), que sai da piada sobre veganismo para uma personalidade de autodescoberta sobre sua sexualidade. Ou até mesmo Wallace Wells (Kieran Culkin), que se mostra alguém falho, capaz de aprender com todos os seus erros. Obviamente que o seriado não consegue explorar de forma integral, porém demonstra outros lados de antigos personagens quase monotemáticos anteriormente.

Cena de Scott Pilgrim: A Série

Apesar de ser realmente um material original, Scott Pilgrim: A Série ganha dimensões e cresce quando observada em conjunto com os outros dois formatos que existiam antes. No longa e a na HQ, talvez tudo se resolva muito envolvendo Scott como uma figura central para a narrativa, como a única persona capaz de andar aquele universo esquisito para frente. Aqui, a coisa muda de figura. É Ramona quem é a peça chave para a história se completar. Até mesmo por isso, caso a animação tivesse outro nome e ninguém soubesse, não poderíamos reclamar.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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