Crítica – Amor e Monstros

Amor e Monstros se coloca firmemente no campo de longas “engraçadinhos” já em sua abertura. Nela, o personagem principal descreve o fim do mundo, que resultou na extinção de 95% daa população. Isso tudo com animações coloridas e uma narração um tanto desafetada do protagonista do longa, Joel (Dylan O’Brien). Poderia ser sinal de um filme que se preocupa mais com “sacadinhas” engraçadas que resultam em um esvaziamento dramático – e aqui mando um abraço para os filmes da Marvel – mas não é o caso, já que o longa, dirigido por Michael Matthews, é um dos mais genuinamente divertidos entretenimentos a sair das terras americanas em um bom tempo, sem se emocionalmente vazio

No filme, após um meteoro ser destruído por diversos mísseis, uma série de substâncias químicas decorrentes desse evento causam uma transformação drástica nos animais de sangue frio da terra, os transformando em criaturas gigantescas e mutantes. Logo a humanidade sucumbe a esses seres, sendo forçada a viver no subterrâneo, em bunkers ou salas do pânico escondidas pelo mundo. Um desses sobreviventes é Joel, o único solteiro em um bunker povoado por casais. Sua namorada, Aimee (Jessica Henwick), se encontra em outro abrigo bem distante do protagonista. Acreditando pouco oferecer de valor para sua “família” de sobreviventes atual, diante de sua incapacidade combativa, ele decide partir  para se reunir com sua amada, em uma viagem de sete dias num mundo infestado de criaturas capazes de matá-lo em um piscar de olhos

Joel é uma pessoa completamente deslocada naquele universo, e isso é expresso a todo momento. Se os outros habitantes do local aonde vive parecem pertencer ao universo de The Walking Dead, com faces mais rústicas, cicatrizes e afins, o protagonista parece saído de uma série teen, com roupas mais coloridas e cara limpa, além de trejeitos mais desengonçados/suaves. Nesse sentido, a escalação de O’Brien é uma grande sacada, visto que o ator surgiu em produções desse estilo, como Teen Wolf e Maze Runner.

O longa não deixa de fazer graça com a inaptidão do personagem de sobreviver àquele mundo. Uma montagem na introdução mostra seu treino de tiro ao alvo, que, é claro, dá errado. Mas isso não impede que isso não seja tratado como um empecilho bem real e letal, quando ao testemunharmos o primeiro encontro de Joel com uma das criaturas, não há humor, e sim tensão, com o protagonista tremendo e ficando a beira das lágrimas. É difícil não simpatizar e não temer pelo bem estar do jovem diante de tal cenário.

Amor e Monstros transcorre como se espera de uma produção que o protagonista deve superar obstáculos para descobrir o seu verdadeiro valor. E é nesse aspecto mais humano que triunfa. Apesar da escala grandiosa dos obstáculos, o cerne da narrativa é bem pessoal, adotando a empatia como mote principal, já que o que salva o protagonista ao fim de tudo não é a habilidade em matar, entretanto sim por meio de um olhar mais cuidadoso para o mundo ao seu redor, que se desenvolve por meio das pessoa que encontra ao longo do caminho. É interessante um momento que a obra reserva para que Joel possa observar calmamente águas vivas voadoras ao lado de um robô inteligente.

Amor e Monstros tropeça um pouco no final, ao se render a certos clichês que sabotam a maturidade emocional apresentada até então pela história, mas a jornada até esse momento não diminui em decorrência disso. Caso tivesse saído em uma época que as pessoas ainda assistissem Sessão da Tarde, facilmente se tornaria um clássico do programa, formando uma geração de amantes de filmes de gênero.

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