Resenha – Chemtrails Over The Country Club (Lana Del Rey)

Lana Del Rey ficou conhecida em sua carreira pelo seu pop meloso e as músicas chamadas de “tristes”. Entretanto, a cantora também soube alterar isso com alguns momentos mais explosivos e inteligentes, com músicas que buscavam um lado mais dançante. Seu último álbum (Norman Fucking Rockwell!) talvez tenha sido um dos mais emblemáticos nesse sentido, por trazer algumas faixas com mais cara de ‘sucesso de rádios’ e pop. Na tentativa de correr mais atrás disso, mas fincar raízes mais fortes ainda nesse passado que a tornou conhecida, Chemtrails Over The Country Club é uma busca forte nessa correlação.

Dessa maneira, as duas primeiras faixas do CD já abordam uma escolha narrativa mais clara do seu lado mais “clássico”, “autoral”, por dizer assim. “White Dress”, uma canção extremamente melancólica e que conta com os vocais de Lana trabalhados de forma mais pop, e “Chemtrails Over The Country Club”, faixa-título que brinca com um lado mais sentimental e uma batida de leve, são inícios claros do que ela irá buscar fazer. Os agudos e o jeito de imposição de voz nas duas músicas lembram bastante o jeito que Camila Cabello realizou em todo seu primeiro álbum solo. Do mesmo jeito, é impossível dizer que a cantora está fora do que sempre fez, com uma letra e um estilo de cantar bem particulares.

Contudo, é em “Tulsa Jesus Freak” e “Let Me Love You Like a Woman” que vemos o lado mais claro para em que local Lana Del Rey está atrás. Na primeira, um pop mais direto, que poderia facilmente ser de qualquer grande cantora de destaque no atual momento. Ao mesmo tempo que uma mescla de um sucesso comercial, também traz um sentimento de um indie meio esquecido nos anos 90. Nada poderia contrastar mais na segunda citada, já que a cantora traz uma canção bem em um estilo mais reconhecidamente seu, com uma melancolia em todo e pequeno elemento. Isso se repete de forma bem direta em “Wild At Heart”. Apesar de terem esse DNA autoral, também trazem uma sensação de música para shows grandes – talvez uma busca da artista.

“Dark But Just a Game” tem um que de faixa para trilha sonora. Novamente, consegue mesclar bem um pop mais comercial, com a batida contínua, além de trazer o estilo de cantar sempre cadenciado, como se fosse um sofrimento para sair a voz. Todavia, a forma que chega ao refrão tem uma relação meio country e meio indie rock, algo quase difícil de identificar. É talvez a cançãos mais interessante de todo Chemtrails Over The Country Club. 

Esse lado country se repete em “Not All Who Wander Are Lost”, em que temos um lado acústico onipresente em todos os pouco mais de 4 minutos, além de ser praticamente falada – e com o refrão remetendo a essa voz mais estrindente, de “White Dress”. “Yosemite” fecha essa espécie de trilogia do violão, com um estilo extremamente similar.

Há, no entanto, uma ruptura curiosamente trabalhada em “Breaking Up Slowly”. É uma música que elabora mais o que o início do álbum buscava, com esse pop de rádio melancólico (sua curta duração mostra bem isso). A voz de Nikki Lane dá um complemento que consegue elucidar ainda mais a batida leve e a guitarra que parece querer explodir a qualquer momento, mas se controla. É interessante seu uso para inciar o fim do CD. Logo depois, “Dance Till We Die” consegue complementar esse pensamentos de algo realmente identificável com Del Rey, mas que também pode ser cansada por outros artistas pop.

Pouco usual na carreira de Lana foi sua junção em feats. Entretanto, o fechamento do disco com “For Free” parece a direção mais clara para qual todo o desenvolvimento das músicas está apontando. É a mescla de estilos, ritmos e também de uma tentativa de buscar rupturas com algo sempre realizado. O piano, que difere dos vilões e guitarras mais presentes nas outras faixas, causa até uma estranheza. Mesmo assim, é uma das mais diretas “músicas para show”.

Chemtrails Over The Country Club é uma clara tentativa de Lana Del Rey alcançar alguns locais para qual nunca foi em seu trabalho criativo. É um álbum que sofre um pouco pela falta de foco em alguns instantes, mas o conjunto da obra traz um disco que não busca se contentar com pouco. Se os fãs estão de olho em um trabalho quase inteiramente novo na musicalidade dela, fica bem claro como esse realmente será o caminho seguido. A artista parece quase pavimentar o caminho para um próximo CD que vai consolidar de vez as novidades buscadas. Dessa forma, ela se mostra como uma das cantoras indies mais marcantes da atual geração, especialmente em saber abraçar o público mais alternativo e o pop.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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