Crítica – A Vida Depois do Tombo

A participação de Karol Conká no BBB21 foi marcante. E isso, claro, não pelo lado positivo. Suas diversas polêmicas, especialmente perante Lucas Penteado, Carla Díaz, Juliette e Arcrebiano, a transformam na grande vilã da edição e em um símbolo de imenso ódio nacional. As cenas de comemoração na sua saída, com rejeição de mais de 99%, mostraram a maneira de como o país se uniu contra a cantora. Mas e como tudo se deu também na vida pessoal dela e, claro, nos desdobramentos da carreira, a partir dessa frustrada participação no Big Brother Brasil? Para tentar responder isso, a série documental A Vida Depois do Tombo busca encontrar soluções para a história.

Essa trajetória pós-BBB é narrada sob três óticas: o passado, o presente e o futuro. Tudo sob a condução extremamente próxima da repórter e roteirista Valéria Almeida. No primeiro campo, observamos uma divisão de aspectos. Por um lado, a trajetória de Conká como rapper e artista e a forma de como ela se transformou em um dos maiores nomes desse estilo musical pelo país; do outro, os aspectos de sua vida e traumas, como o racismo, a relação com o pai e, como isso tudo transbordou no BBB.

O segundo e terceiro campos funcionam quase de forma conjunta em A Vida Depois do Tombo. Eles mostram um acompanhamento do dia a dia da artista aceitando tudo que apareceu ao redor dela e da “tragédia”, como a mesma diz, para sua carreira. Nesses momentos que vemos muitos uma espécie de “sala julgadora”, quando Karol irá abordar momentos da participação no reality show. É ali que são rememorados episódios, como as discussões com Carla, Arcrebiano e Lucas. O último era o único que havia aceitado participar do seriado, mas cancelou de última hora – o seu vídeo enviado é um dos momentos chaves para a “reconstrução” proposta a Conká na narrativa. Além disso, são nesses períodos que acompanhamos também qual será o futuro na música, fato potencializado pela última cena.

Esses aspectos são esmiuçados em apenas quatro capítulos. É um espaço curto e que faz com que a série tenha que correr em certas relações muito rapidamente. Não há espaço para um lado mais sensível a ser desenvolvido, e que poderia ser até importante para a rapper. Existe apenas uma espécie de produção jornalística mais “pura”, que pouca ousa e trabalha sempre em uma base bem clara sobre o que essa personagem é. De fato, é impossível não falar que estamos vendo um estudo de personagem, já que toda a produção se baseia nisso. Contudo, os espaços abertos para maiores perspectivas e entendimentos sobre a personalidade (os problemas de bebida do pai e como isso esteve presente em Lucas, por exemplo) são sempre apenas tangenciados.

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Outro grande momento do seriado é o reencontro com Lumena. Apesar de ser um momento que se transforma até em meio bobo, ele é composto pela necessidade de um “pedido de desculpas” por parte da integrante pipoca do BBB21. Todavia, é um instante que pode ser usado para demonstrar claramente como a ideia da “sala de julgamento” acaba se tornando extremamente brega e quase sem muito sentido. Ali, há uma tentativa de entender novamente tudo que aconteceu e seus períodos de explosão. Mas o local soa apenas estranho e sem um verdadeiro elemento a ser desenvolvido. Talvez se tudo tivesse passado ali, teríamos um verdadeiro entendimento sobre o uso do espaço.

No fim dos quatro episódios, A Vida Depois do Tombo se estabelece em um meio termo. Falta uma frontalidade necessária para abordar alguns temas sobre a vida de Karol Conká, especialmente aqueles que levaram ao seu comportamento no Big Brother Brasil. Ao não dar voz a isso, a série parece que não tem um verdadeiro interesse de ser algo a mais para entender a personalidade da artista. Ficando apenas em um traço “comum”, que se estabelece quase como desnecessário. A existência do programa poderia ser, tranquilamente, outra coisa, perdendo oportunidades de entender mais quem é essa pessoa.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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