Crítica – Sem Remorso

Ao longo da história do cinema, diversos filmes já adaptaram livros do personagem Jack Ryan (veja mais sobre a série do Prime Video aqui). Talvez um dos mais conhecidos espiões de todos os tempos (junto de 007 na literatura), o personagem, criado por Tom Clancy, sempre esteve subjulgado a homens brancos. Todavia, há outras obras do autor também passíveis de adpatação, e entre elas está Sem Remorso, que se transforma em longa agora. No entanto, como em outras produções do gênero recentes, a ideia é modificar um pouco as construções estabelecidas do protagonista. Aqui, John Kelly Clark (Michael B. Jordan), um oficial da marinha, é um homem negro e com diversas conexões nesse sentido. Dessa forma, é interessante como a trama ganha relevância e multiplicidade.

Na história, acompanhamos a vida de John que, após voltar de uma missão de guerra em que vários de seus companheiros morrem, tenta retomar sua normalidade junto de sua esposa. O problema é que uma conspiração secreta começa a atacar todos os soldados que restaram dessa missão, os matando um por um. Entre os que sobram está o personagem principal, todavia com uma baixa: a perda de sua mulher grávida. Kelly vai atrás para poder se vingar e entender o assassinato de tantas pessoas.

O cineasta Stefano Sollima, que ficou conhecido pela sequência de Sicario, traz uma narrativa que parece fielmente instigada a trazer elementos de produções clássicas de espionagem. Dessa maneira, vemos uma obra que se propõe menos a fazer um jogo de ação, como é mais costumeiro nos grandes hits do cinema. Aqui, Sollima se utiliza do elemento mais puro desse gênero: a investigação. John passa boa parte dos acontecimentos muito mais interessado nos olhares, em observar e em adentrar em lugares de forma escondida. É quase como se estivéssemos dentro de um game, em que precisamos sempre passar pelas fases sem ser percebido. Não chega uma narrativa que realmente propõe ser mais gameficada, contudo é curioso como a proposta de uma tradição busque se alinhar com uma contemporâneidade do cinema.

Apesar disso, Sem Remorso acaba sendo um longa que ainda quer perseguir certos padrões, abrindo poucos espaços para discussões curiosas que ocorrem no passar do tempo. Um desses pontos, a qual falei no início, é a questão racial, que aparece de forma mais rápida logo nos primeiros minutos. Contudo, esse elemento, que até permeia de forma velada algumas condições da trama, como a relação com Robert (Jamie Bell), acaba sendo um elemento um pouco estranho de aparecer. É como se não fizesse sentido a sua citação inicial.

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De fato, contudo, é complicado ver como o filme abraça seu lado mais “super sério” quando chega na ação. Obviamente, há um lado dramático explorado ali. Mas, quando a obra se diverte mais, é aonde atinge seus pontos mais intensos do desenvolvimento. A relação entre John e Karen (Jodie Turner-Smith), por exemplo, é um dos elementos centrais desse lado mais despojado que o diretor tenta entregar. Entretanto, ao também limar esses momentos para buscar uma seriedade quando as sequência mais catárticas acontecem, é como se a produção perdesse um pouco do brilho construído anteriormente.

É curioso como Sem Remorso é realmente uma tentativa do Prime Video de chegar até um público mais mainstream. De certa forma, vai conseguir de forma mais natural, ao contar com uma narrativa de espionagem que sabe muito bem mesclar o velho e o novo – assim como obras recentes, como John Wick e os últimos Missão: Impossível. Porém, é um pouco frustrante ver como o longa acaba perdendo um pouco da sua inspiração e da necessidade de construir uma trama que tenha menos interesse em ser mais quadrada. Stefano Sollima até tenta trazer algo mais prazeroso em um filme de ação, mas parece cheio das amarras em ser comum.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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