Em premiação estranha, Oscar 2021 derrapa ao tentar ser diferente

E ele aconteceu. Apesar de tudo, o Oscar 2021 não foi uma ilusão e tentou, da sua maneira, se manter de pé por mais um ano. Muitos duvidaram e até foi bastante impressionante que a cerimônia tenha conseguido se virar, do jeito que dava, para realizar a premiação anual mais famosa do cinema. E quem dirigiu tudo tem nome e sobrenome: Steven Soderbergh, que prometeu algo bem inédito e curioso ao transformar o Oscar em uma espécie de filme em construção. E como isso seria feito? Premiando cada categoria de forma diferente, como se tivesse sendo feito um projeto do zero.

Dessa forma, a noite iniciou longe dos atores coadjuvantes – normalmente um dos primeiros distribuídos. De cara, tivemos a premiação para Roteiro Original e Adaptado. Ao longo da cerimônia, foi até curioso o destaque dado para as categorias mais técnicas (essas que costumam passar desapercebidas, como Som, Design de Produção e mais). No entanto, a ideia final parecia bem clara. Ao finalizar a premiação por completo em Melhor Ator, e não com Melhor Filme, o script parecia indicar uma tentativa de ovacionar Chadwick Boseman, morto em 2020. Porém, o anticlímax geral aconteceu quando Anthony Hopkins se consagrou o campeão da categoria, mesmo sem nem estar presente.

Esse foi apenas um dos erros estratégicos cometidos. A estranheza também de uma localização diferente para a entrega do prêmio, além dos que acompanhavam poderem ficar sem máscara na frente das câmaras, pareceu, no mínimo, esquisito. Mesmo que tenha havido realmente um cuidado, a possibilidade de algum problema grande de contaminação existir daqui há alguns dias deve ser levada em conta. Esperemos que não, mas a Academia poderia ter tido um pouco mais de preocupação nesse sentido. Por fim, a mistura de correrria e tranquilidade ao longo das três horas (uma a menos que alguns tempos passados) fez com que alguns discursos se alongassem demais, além das apresentações de cada categoria serem, quase sempre, bem “chatas”.

Além de tudo, é impossível não complementar com a queda de audiência gigantesca nesse ano. Foi de mais de 23 milhões de telespectadores nos Estados Unidos em 2020 para quase 10 milhões em 2021. A queda brusca marcou a decadência do Oscar nos últimos tempos, que alcançou mais de 40 milhões de espectadores em 2014. A ver como isso será trabalhado para o próximo ano.

Mas não podemos tirar apenas coisas ruins de um ano com alguns tabus importantes quebrados. O primeiro, é claro, foi da vitória de Melhor Direção para Chloé Zhao por Nomadland – que também venceu Melhor Filme. Ela se tornou apenas a segunda mulher a vencer esse prêmio, além da primeira não-branca. É uma marca importante. A categoria que ganhou um selo curioso de apenas um diretor nascido nos Estados Unidos ter ganhado em 11 anos, que foi Damien Chazelle por La La Land.

Frances McDormand, também por Nomadland, se transformou em um dos poucos atores/atrizes que venceram o Oscar por três vezes. No caso, se juntou a Ingrid Bergman, Walter Brennan, Daniel Day-Lewis, Jack Nicholson e Meryl Streep. Outras marcas curiosas batidas foram da mulher mais velha a vencer o Oscar (Ann Roth, de 89 anos, por A Voz Suprema do Blues), além das primeiras pessoas negras a vencer por Melhor Maquiagem e Cabelo (Mia Neal, Sergio Lopez-Rivera e Jamika Wilson também por A Voz Suprema do Blues).

A noite também ficou bem dividida no quesito prêmios. O maior indicado foi Mank, que acabou o dia com duas estatuetas no carrinho. O Som do Silêncio, Judas e o Messias Negro, Meu Pai e Soul também se igualaram a ele. Bela Vingança e Minari ficaram com apenas um, e Os 7 de Chicago saiu de mãos abanando. O maior vencedor do Oscar 2021 foi, sem dúvidas, Nomadland, que também saiu com 3 prêmios – e de três categorias principais.

Apesar de confusa e bastante errada, a cerimônia do Oscar se mostrou resiliente, ao ter apenas acontecido em um ano pandêmico. Alguns aprendizados – especialmente sobre a duração – podem ser tirados daqui, mas o prêmio precisava se tornar mais atraente do que foi. Isso pode ser destacado no “In Memoriam”, que é sempre um dos momentos mais tristes e se mostrou, desnecessariamente, corrido. Esperamos que a Academia tenha aprendido e que tenhamos uma próxima edição ao menos mais interessante do que essa.

Veja os vencedores:

Melhor filme

Melhor atriz

  • Viola Davis – “A voz suprema do blues”
  • Andra Day – “Estados Unidos Vs Billie Holiday”
  • Vanessa Kirby – “Pieces of a woman”
  • Frances McDormand – “Nomadland” (vencedora)
  • Carey Mulligan – “Bela vingança”

Melhor ator

  • Riz Ahmed – “O som do silêncio”
  • Chadwick Boseman – “A voz suprema do blues”
  • Anthony Hopkins – “Meu pai” (vencedor)
  • Gary Oldman – “Mank”
  • Steve Yeun – “Minari”

Melhor direção

  • Thomas Vinterberg – “Druk – Mais uma rodada”
  • David Fincher – “Mank”
  • Lee Isaac Chung – “Minari”
  • Chloé Zhao – “Nomadland” (vencedora)
  • Emerald Fennell – “Bela vingança”

Melhor atriz coadjuvante

Melhor ator coadjuvante

Melhor filme internacional

  • “Druk – Mais uma rodada” (Dinamarca) (vencedor)
  • “Shaonian de ni” (Hong Kong)
  • “Collective” (Romênia)
  • “O homem que vendeu sua pele” (Tunísia)
  • “Quo vadis, Aida?” (Bósnia e Herzegovina)

Melhor roteiro adaptado

  • “Borat: fita de cinema seguinte”
  • “Meu pai” (vencedor)
  • “Nomadland”
  • “Uma noite em Miami”
  • “O tigre branco”

Melhor roteiro original

Melhor figurino

  • “Emma”
  • “A voz suprema do blues” (vencedor)
  • “Mank”
  • “Mulan”
  • “Pinóquio”

Melhor trilha sonora

Melhor animação

  • “Dois irmãos: Uma jornada fantástica”
  • “A caminho da lua”
  • “Shaun, o Carneiro: O Filme – A fazenda contra-ataca”
  • Soul (vencedor)
  • “Wolfwalkers”

Melhor curta de animação

  • “Burrow”
  • “Genius Loci”
  • “If anything happens I love you” (vencedor)
  • “Opera”
  • “Yes people”

Melhor curta-metragem em live action

  • “Feeling through”
  • “The letter room'”
  • “The present”
  • “Two distant strangers” (vencedor)
  • “White Eye”

Melhor documentário

  • “Collective”
  • “Crip camp”
  • “The mole agent”
  • “My octopus teacher” (vencedor)
  • “Time”

Melhor documentário de curta-metragem

  • “Collete” (vencedor)
  • “A concerto is a conversation”
  • “Do not split”
  • “Hunger ward”
  • “A love song for Natasha”

Melhor som

Canção original

  • “Fight for you” – “Judas e o messias negro” (vencedor)
  • “Hear my voice” – “Os 7 de Chicago”
  • “Husa’vik” – “Festival Eurovision da Canção: A saga de Sigrit e Lars”
  • “Io sì” – “Rosa e Momo”
  • “Speak now” – “Uma noite em Miami”

Maquiagem e cabelo

Efeitos visuais

  • “Problemas monstruosos”
  • “O céu da meia-noite”
  • “Mulan”
  • “O grande Ivan”
  • “Tenet” (vencedor)

Melhor fotografia

Melhor edição

Melhor design de produção

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *