Crítica – Esquadrão Trovão

Há uma cena, mais ou menos para metade de Esquadrão Trovão, que transcorre da seguinte maneira: após uma vilã escapar, Lydia (Melissa McCarthy), dotada de superforça, decide arremessar um ônibus para impedir a fuga de sua oponente. Emily (Octavia Spencer), sua companheira no combate o crime, é contra a ideia. “Não arremesse esse ônibus!” diz Emily, ao que Lydia responde “Não te escuto! Estou arremessando um ônibus!”, o que prontamente faz, com resultados desastrosos. O filme corta para uma figurante mirim que diz “nossa, aquela moça arremessou um ônibus”, e corre em disparada, volta para a personagem de McCarthy, que diz “caramba, eu joguei um ônibus”.

Esse não foi um parágrafo muito interessante de se escrever, imagino que também não tenha sido uma leitura agradável, então pode se imaginar a sensação que é de assistir não somente a essa cena, mas também todas as quase duas horas de Esquadrão Trovão. O filme e aproveita do hype relacionado a super heróis para fazer nada de relevante com o material, além de achar que a mera repetição ou alongamento de alguma situação a torna imediatamente engraçada.

O longa, um original Netflix, escrito e dirigido por Ben Falcone, nos apresenta um mundo onde, nos anos 80, o planeta Terra foi atingido por um evento cósmico que levou ao surgimento de pessoas com superpoderes, mas com um porém: somente aqueles com características sociopatas ganharam as habilidades especiais e a alcunha de “meliantes”, cujo reinado parece sem fim, já que ninguém pode impedi-los. A cientista Emily perdeu os pais devido a um ataque desses seres, e dedica sua vida a desenvolver uma maneira de pessoas boas terem poderes para retrucar. Ela consegue, mas sua amiga de longa data, a desengonçada Lydia, quase coloca tudo a perder ao entrar sem querer no processo. As duas acabam sendo treinadas para propósitos heróicos, formando o titular esquadrão, as únicas super heroínas num mundo de vilões.

Muito da narrativa depende do contraste entre as duas protagonistas, com Emily ocupando o papel da pessoa séria, inteligente, contudo que “não sabe se divertir” e Lynda, uma pessoa simples, sem muito intelecto e estabanada, mas com um coração de ouro e divertida. O problema é que isso pouco funciona pois as duas atrizes funcionam no modo automático. McCarthy está na sua zona de conforto, de mulher desengonçada, que não mede suas ações, só que é carinhosa. Já Spencer é difícil definir se é a personagem dela que deveria agir de modo tão desinteressado, afinal, ela é uma mulher “séria” ou se é a própria atriz que simplesmente está lá por obrigações contratuais e não faz a menor questão de disfarçar, com toda sua atuação marcada por uma falta de energia. Ela está mais que certa, na verdade, diante da completa falta de imaginação que cerca o Esquadrão Trovão.

 Não é a primeira vez que falo acerca do “molde” que costuma envolver essas produções originais Netflix – e provavelmente não será a última. Se até então a maioria dessas obras são até assistiveis, Esquadrão Trovão é, de longe, o pior desse tipo de filme que existe mais para servir ao todo poderoso algoritmo do que qualquer inspiração artística. Acaba sendo o longa “perfeito” para ficar ao fundo enquanto os espectadores realizam qualquer outra atividade, como usar o celular, sem que nada se perca no caminho. Aquele que propriamente “consome” a obra, e a Netflix aumenta seus números, todos saem felizes – menos o bom gosto e o humor de quem se dispôs a de fato assistir ao longa.

Confira a crítica de outros filmes da Netflix aqui.

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