Crítica – Falcão e Soldado Invernal

Uma das primeiras cenas de Falcão e Soldado Invernal mostra os dois protagonistas indo até o o museu do Capitão América. Como a série se passa pouco tempo após Vingadores: Ultimato, muito da representação do personagem continua presente dentro desse ideário americano. Obviamente, também há uma memória de toda sua moralidade, algo que o marcou desde sempre. Esses elementos se tornam fundamentais para a construção dessa figura mítica que, dentro daquele universo, merece a construção do museu. Porém, como levar esse fardo adiante? É o que questionam os dois, em busca de também marcarem seu nome na história. Mas, para conseguirem isso, precisam se transformarem também em símbolos.

E essa formação de um símbolo está ligada ao combate. No caso daqui, são dois: os terroristas Apátridas, surgidos depois de todo o debate sob nacionalidades e mundo após o desaparecimento de metade da população por Thanos; e John Walker ou o “novo Capitão América”. Esse que assume o manto após decisão governamental, e também por ter tomado o soro de super soldado. Aliás, os terroristas se utilizam, do mesmo modo, de tal arma, como forma de defesa, na tentativa de terem uma maneira de ataque em meio à sua luta.

A direção em todos os episódios da minissérie por Kari Skogland estabelece um padrão narrativo a ser desenvolvido. O principal elemento gira sob essa alcunha de realmente se tornar a figura que o Capitão deixou para trás. Por isso mesmo, a relação entre Falcão e Soldado Invernal é um dos elementos centrais do primeiro caítulo. O que restou de uma conexão que era verdadeiramente estabelecida por uma terceira figura? É curioso como essa questão poderia render diversos estabelecimentos dramáticos e até mais cômicos – o que se tenta fazer em algumas cenas. Contudo, essa substância acaba sendo bastante subjulgada a tramas e mais tramas que surgem e parecem esquecer sobre o que está se querendo tratar.

Voltemos às batalhas enfrentadas pela dupla de heróis. Talvez seja nessas duas bases, que são realmente centrais, em que a produção mais se perde. O primeiro sobre o conflito perante os Apátridas. É um tema que perdeia todo esse lado mais político da história, tendo uma participação relevante (mas ao mesmo tempo discreta) de Zemo (Daniel Brühl), vilão de Capitão América: Guerra Civil. As tentativas de trazer um debate moral sobre esse desenvolvimento se tornam sempre muito bobas. Dessa forma, a vilã Karli (Erin Kellyman) é sempre bastante confusa para em que lugar está tentando ir. Por exemplo, suas motivações aparecem de forma esporádica, porém parecem sempre confusas para o telespectador. Ao mesmo tempo que a sua relação com o grupo, a qual é demonstrada quase de forma familiar, nunca faz muito sentido no desenvolvimento dos capítulos.

Confira nossa crítica de Wandavision

Já passando para o lado do manto de Capitão América, é talvez no ponto que os seis episódios mais brilhem. Entretanto, é uma pena que sempre sejam deixados de lado. A construção de John Walker é algo à parte nessa história. Um personagem que quase ganha uma alcunha de protagonista/vilão tamanha sua relevância para alguns acontecimentos e para os atritos que surgem na relação entre Falcão (Anthony Mackie) e Soldado (Sebastian Stan). Isso que poderia ser um elemento central – e que faz mais sentido para ambos os heróis -, mas acaba sendo muito mais uma brincadeira e debate de pano de fundo que a obra busca retratar. O ápice talvez seja nos episódios 4 e 5, em que alguns acontecimentos mudam verdadeiramente a trajetória da opinião pública, o lado que a série mais busca se apoiar.

Dá a impressão, em muitos momentos, que Falcão e Soldado Invernal está mais interessada em ser uma catapulta para algo, e não realmente uma coisa própria. Falta para a minissérie uma verdadeira vontade em buscar algum elemento que leve a narrativa para frente. Ao abrir muitas frentes, é como se a produção não tivesse muita vontade de explorar nenhuma, deixando apenas pontas soltas a serem desenvolvidas nos filmes futuros da Marvel. Obviamente que isso também acontece, mas é difícil entender como a obra fica desinteressada nas suas próprias características.

Todavia, há algo de muito bom a ser relatado, que é toda a trajetória em busca do manto. Se a provação e dúvida acontecem inicialmente, ela é muito bem resolvida no fim, na melhor sequência de todos os episódios. O debate moral envereda menos para um lado sobre o que é ser americano, e sim para um caminho de entender como se pode ser um herói negro nos Estados Unidos. O que a opinião pública acha, pouco importa, já que a luta precisa continuar.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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