Crítica – Lakewood

Em tempos de pandemia, filmes com elenco reduzido fazem todo sentido, afinal, quanto menos pessoas no set, melhor. Melhor ainda uma produção que consiste basicamente de um só personagem, reduzindo ainda mais os riscos. Até surpreende que mais filmes como Lakewood, focado em uma só pessoa e seu telefone, não tenham aparecido nesses tempos, com destaque sendo mais filmes feitos pelo Zoom, como o terror Host, por exemplo.

Em Lakewood, Naomi Watts é a grande estrela, no papel de Amy Carr, uma viúva ainda lidando com a morte do seu par, um ano após o acontecimento. Se ela não está lidando muito bem com a situação, seu filho, Noah (Colton Gobbo), menos ainda, mal saindo da cama ou dirigindo a palavra para sua mãe, a relação entre os dois abalada pelo luto. Tendo um dia particularmente difícil, Amy decide tirar um dia pessoal e não ir ao trabalho, e após mandar as crianças para escola, decide dar uma corrida pela floresta que circunda a cidade. A caminhada começa tranquila, até que Amy começa a notar coisas estranhas, como o súbito fluxo de carros de polícia. Nesse momento que ela recebe a informação que nenhum pai americano deseja ouvir: um atirador invadiu a escola de seu filho, e agora ela precisará correr de volta para cidade e tentar salvar seus filhos.

O roteirista do longa, Chris Sparling, já obteve grande sucesso com histórias de personagens sozinhos em locais isolados, como Enterrado Vivo, lançado em 2010. Mas nesse havia elementos de suspense melhor integrados à trama, com a claustrofobia e o decrescente estoque de oxigênio, ambos bem trabalhados pelo diretor Rodrigo Cortés. Nessa nova história, dirigida por Philip Noyce, a base está mais no drama do que no suspense em si, com Amy o tempo todo procurando saber a situação de seus filhos, especialmente de Noah, que não atende o telefone.

Mas Noyce parece ser um diretor pouco inventivo para lidar com uma trama tão simples. Sorte dele contar com Watts como estrela, que sustenta bem os momentos dramáticos, pois, caso contrário, entre um plano da personagem andando para lá, e outro plano andando para cá, teríamos também que contar uma atuação medíocre nas pausas entre as caminhadas, quando ela precisa falar com alguém no telefone em busca de informações. A melhor maneira que o longa consegue de expressar os sentimentos de Noah em relação ao seu pai é de colocar um vídeo do personagem falando sobre isso em seu Instagram, é tudo muito pedestre.

Não costumo ser uma pessoa ligada aos chamados “furos de roteiro”, mas Lakewood é tão sem graça em sua narrativa que é difícil não reparar momentos que simplesmente não fazem sentido, como Amy dizendo que “não pode esperar” um Uber que está a 10 minutos de distância dela, o que resolveria toda sua situação. Porque ela não pode esperar? Seu palpite é tão bom quanto o meu.

O longa, não contente em seu fraco drama, decide ganhar ares também de filme investigativo, se tornando quase uma power fantasy de uma mãe suburbana, mais ágil e mais capaz do que todo um departamento de polícia para descobrir a identidade do atirador. A parte boa disso tudo é que é possível dar umas risadas, pena que estou rindo do filme, e não com ele.

Esse texto faz parte da cobertura do Festival Internacional de Cinema de Toronto 2021

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