Crítica – Incompatível com a Vida

Analisar o trabalho de Eliza Capai em Incompatível com a Vida é realmente fazer uma espécie de espelho. Isso porque, a diretora busca essa mesma visão para um retrato etnográfico, mas cheio de interesses pessoais. A artista (e também protagonista) perde o filho por conta de um aborto espontâneo durante a gravidez. Dessa maneira, ela vai em buscar de entender outras histórias similares, de mulheres que sofreram da mesma circunstância, tentando entender em que ponto da vida elas estão agora.

Capai idealiza isso em uma visão sempre de correlação. Não a toa, a cena inicial traz um caminho mais intímo da própria relação com o marido, na expectativa de um filho durante a pandemia de Covid-19. Só que aquela gravação parece ser um dos únicos momentos de felicidade, visto que, a perda da criança, acarreta em uma ferida quase impossível de cicatrizar. Em uma espécie de terapia em grupo, a diretora busca essas outras histórias parecidas para quase se espelhar. É uma ideia de que ela não precisaria estar sozinha e suportar sozinha, enquanto mulher, todo esse processo.

Cena de Incompatível com a Vida

Outro aspecto que reforça bem o espelho buscado pela cineasta é o fato dessas histórias serem narradas sempre pelo casal, assim como a mesma faz. Claro que o interesse é bem menor em trazer alguma discussão mais profunda sobre o aborto ou algo do tipo (apesar desse ponto também ser abordado). Capai realmente quer entender em Incompatível com a Vida a construção dos sentimentos com os filhos que nunca realmente viveram. Especialmente com as mães, ela vai atrás de uma profundidade sobre os próprios sentimentos e de como a familía acaba se relacionando a tudo isso. Como, mesmo com muito suporte, o sofrimento da mulher sempre acaba se sobrepondo.

Apesar de também soar como um aspecto narrativo, a visão ciclíca da obra – ao remeter mesmos momentos, depoimentos e circunstâncias – acabam gerando até um cansaço. Com pouco mais de 1h30 min de duração, as coisas parecem que estão se repetindo de alguma parte, como se essas tramas estivessem todas conectadas. Há um objetivo, evidentemente, nisso. Em reforçar essa união feminina, que parece mais algo construído pela encenação do que notabilizado em como os depoimentos aparecem. Em suma, o maior interesse é sempre nesse olhar fraterno das histórias e menos na conexão profunda que todas tem.

Cena de Incompatível com a Vida

Mesmo com isso, a visão de Eliza Capai ainda é positiva. Ela enxerga tudo sob um olhar de muitas possibilidades e de um alento para si mesma, como se também pudesse seguir em frente. Ao buscar também uma visão mais forte, é como se Incompatível com a Vida fosse um filme de sofrimento, algo que é o que ele menos busca ser. Talvez sua melhor definição seja sobre a própria empatia, com as personagens e com a vida.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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