Crítica – Clube da Luta para Meninas

É até bem impressionante a forma como Clube da Luta para Meninas se vende logo pela sua “capa”. Uma espécie de clube da luta apenas com mulheres – literalmente como o título -, mas que serve para elas se verem mais do que como são observadas na escola e, ao mesmo, para a dupla de amigas PJ (Rachel Sennott) e Josie (Ayo Edebiri) conquistarem as meninas pela qual tem interesse. Junto disso, uma grande loucura narrativa que envolve culto a Jeff (Nicholas Galitzine), o menino jogador de futebol americano e maior celebridade do local, e mortes e explosões.

Ok, se você não faz a menor ideia do que se trata esse filme talvez tenha sido até mais confuso desse primeiro parágrafo. É justamente um pouco dessa sensação que a diretora Emma Seligman (que fez também o ótimo Shiva Baby) quer passar nas primeiras cenas. A confusão, os cortes rápidos e você apenas entendendo o básico: Josie tem interesse romântico em Isabel (Havana Rose Liu), namorada do menino famosinho do colégio citado antes; e PJ quer Brittany (Kaia Gerber). A partir disso, a narrativa se joga em uma jornada de loucuras e mentiras de cada uma para chegar nas duas. Parece uma grande loucura e sátira. Mas só parece.

Cena de Clube da Luta para Meninas

Isso porque Clube da Luta para Meninas quer o tempo todo ser uma grande brincadeira sobre os filmes adolescentes colegiais. Em certo sentido, até não tem medo de mostrar isso bem claramente – como no clímax ou na primeira reunião do clube. Entretanto, apenas quer e soa bem mais como qualquer outro. Seligman definitivamente consegue construir essas pequenas piadas através dos cenários e dessas personagens absurdas, que muitas vezes proferem mesmo absurdos. A brincadeira de chegar nesse ponto poderia ser o grande escape de uma obra que tem uma natureza simples, sobre a busca de duas mulheres por suas paixões.

Se esse outro caminho aparece em alguns instantes, na maior parte o que vemos é justamente um longa adolescente como qualquer outro. Soa como sempre a cineasta tivesse um receio de ultrapassar certo limite “ético”, como ao fazer uma piada sobre ataques em escolas ou estupro. Tudo chega até um passo que parece não poder ser ultrapassado. Por isso, volta a ser um drama cômico dessas meninas juntas, brigando e tentando encontrar formas de falar com as meninas. E tudo bem ser também. O problema é que a todo período o filme quer parecer que não é isso, como se fugisse do que realmente reafirma ser. Um dos melhores exemplos é o momento da briga por conta do clube em uma partida de basquete, que tem diversos elementos absurdos, porém em que o foco é no caráter mais simplista e básico daquilo.

Cena de Clube da Luta para Meninas

Dessa forma, ele acaba andando um pouco círculos nessa mesma proposta. Em certos períodos chega perto de estraçalhar tudo, só que volta a um ponto inicial pelo qual teme em sair sempre. Graças não ter medo de realmente jogar tudo para o alto em um fim quase digno de John Waters, que parece uma grande inspiração para essa formatação da encenação.

Nessa grande piada sobre o papel das mulheres, especialmente lésbicas, em um processo de escola e em como podem ser vistas pela sociedade, Emma Seligman faz de Clube da Luta para Meninas uma grande repetição formal. Obviamente não na história, mas no jeito que ela é trabalhada. Novamente dizendo, não haveria grandes problemas nisso. O problema está apenas em querer se fingir algo que nunca realmente é. Se tem um lugar em que a diretora chega aos limites do absurdo com a própria piada é em Shiva Baby que, tão comedido, consegue ser bem mais catártico que esse.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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