Crítica – Ameaça Profunda

Norah (Kristen Stewart) reflete sobre sua condição. Vivendo muito tempo embaixo da água em uma estação de exploração, além de estudos sobre a localidade, ela parece não mais compreender o tempo, nem nada. Sua vida ali parece algo quase comum, passando dia após dia sem entender o que ou como estaria fazendo qualquer ação. Tudo se modifica quando ela observa diversas explosões na plataforma onde está estacionada. Água vaza para todos os lados, destruindo diversos compartimentos. Ela consegue fugir com Rodrigo (Mamoudou Athie). A partir daí, eles precisam encontrar uma maneira de retornar para a superfície, além de entender os motivos de tudo que aconteceu.

Apesar dessa até longa sinopse, estamos falando apenas dos primeiros 5 minutos de Ameaça Profunda. Sem buscar explorar sua história através de flashbacks ou contando maiores referências, há apenas uma conexão ali: escapar do lugar. Se juntam aos dois o capitão da tripulação (Vincent Cassel), Paul (T.J. Miller), além do casal Emily (Jessica Henwick) e Liam (John Gallagher Jr.). A fuga vira o ideal deles, em uma relação sempre complexa com cada ponto dessa localidade. O contato com o exterior é absolutamente nenhum. Eles estão sozinhos em toda essa situação.

É interessante perceber como o diretor William Eubank, reconhecido por outras ficções-científicas com críticas medianas, tenta fazer um jogo diferente para o gênero. Enquanto grande parte dos filmes de escapada de monstros (como Vida, Alien, entre outros) toda a ação de seus personagens gira em torno de uma reação aos acontecimentos em sua volta, aqui os protagonistas vivem a partir de agir. Tudo acontece a volta deles em um primeiro instante e, para conseguir achar a melhor saída, precisam se locomover por esse espaço. Dessa forma, encontramos quase um jogo centrado em um certo horror cênico. Todo ambiente ali pode ser perigoso, todavia é necessário afim de zarpar.

A tentativa de não ser genérico passa longe aqui, tornando-se sua maior problemática. Não há uma decisão própria que a produção assuma na qual tente realmente continuar com aquilo. Um desses exemplos é a própria narração inicial de Norah. Toda sua demonstração ali coloca uma espécie de criação da loucura, quase como se a destruição da base não tivesse um motivo bem claro. A busca por esses motivos, no caso, fosse fruto de uma certa insanidade. Bom, tudo é jogado no lixo quando as circunstâncias levam aos monstros. A partir daí, os sustos baratos tomam conta (a cena na qual dois personagens vão em busca de um corpo no escuro é o exemplo mais claro disso).

O longa até tenta trazer um jogo de gato e rato, digno de suspenses mais contemporâneos, especialmente os que trabalham uma relação meio jovial do gênero (Corrente do Mal, por exemplo). Ao trazer isso, ele simplesmente dissipa diversas ideias relacionadas a uma concepção psicológica ali. O drama aberto realmente aparece no terço final, gerando uma base bastante fraca. Ao assumir o terror, poderia haver também uma busca em abraçar um lado mais confuso sobre essas circunstâncias, porém diversas convenções aparecem bem diretamente na tela – levar um filhote de monstro para dentro da cabine, megalomania próxima ao fim.

São claras as tentativas dentro dos pequenos momentos de Ameaça Profunda em ser um filme particular. O problema é quando ele quer sair disso, acaba entrando para caminhos ainda mais diretamente referênciais ao seu subgênero. Toda a sua principal concepção dos personagens sempre agirem vira um argumento infundado no fim com o ser gigantesco, em uma clara referência a H.P. Lovecraft. Ao fim, com ainda alguns retratos de jornais e notícias, faltava só alguma demonstração de estarmos vendo parte do universo de Cloverfield. E, parando para pensar, talvez seria até melhor para o longa se fosse o caso.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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