Crítica – Drácula

Trazer para outra mídia a história do Drácula é sempre uma tarefa complexa. Publicado em 1897 por Bram Stoker, a obra ganhou o mundo de diversas formas, seja através das letras, seja por parte das suas famosas adaptações cinematográficas. Além disso, não foram poucas as homenagens ou referências dentro da música ou em outros livros, por exemplo. Trazendo todos esses motivos à tona, é possível perceber como essa narrativa do velho Conde Drácula, que utiliza-se do sangue humano para ficar jovem, trouxe uma roupagem única para os vampiros. É impossível pensar nessas criaturas sem lembrar de seu maior nome.

Em uma procura de trazer esse ser aos dias mais atuais, a minissérie da BBC Dracula, distribuída no Brasil pela Netflix, traz quase uma releitura. Não é possível ver isso diretamente, contudo, ao olhar a partir de uma perspectiva ampla do projeto de Mark GatissSteven Moffat, são claros os traços de uma tentativa de trazer novidades.

Diretamente não é possível ver isso claramente, contudo, ao olhar em uma perspectiva ampla, a criação da produção por Mark GatissSteven Moffat, responsáveis por Sherlock, são claros os traços de uma tentativa de trazer novidades. Aliás, mesmo sendo impressionante falar isso, uma obra com vampiros talvez não seja tão divisiva desde Crepúsculo. Entretanto, diferente dessa, esse novo seriado utiliza de um já complexo universo para fundamentar novidades trazidas ao mundo atual para a figura mais famosa dos apaixonados por sangue.

A perspectiva é toda compartilhada nos três episódios presentes. O primeiro é o que traz elementos mais claros. É observável ali a adaptação original do livro, com a chegada de um homem ao castelo do Conde, que acaba sendo atraído para a busca sedenta de sangue de Dracula (Claes Bang). Tudo isso é contado pelo próprio homem em um convento de freiras, idealizando um outro tempo. Toda a mitologia já reconhecível é apresentada durante esses noventa minutos, a não ser as modificações em torno da figura de Van Helsing. Como essa crítica não tem spoilers, é preferível falar um pouco menos desse quesito específico.

Esses elementos levam aos acontecimentos do segundo episódio. Esse é marcado por uma mesma relação formal do primeiro capítulo, porém buscando explorar possibilidades. Agora, quem narra tudo é o vampiro, o que acaba causando um efeito de verdade/mentira sobre todo seu relato em um navio. Essa situação, também presente dentro do livro original de Stoker, é um elemento apenas de desenvolvimento maior sobre essa figura. Diversos pontos da mitologia são retirados para uma verdadeira face bem nas características românticas desse ser. Há diversos elementos de uma questão quase literária na narrativa, especialmente em suas idas e voltas, sempre traçadas por um linguajar único.

Tudo leva realmente para evidência do terceiro capítulo, uma grande modificação de tudo. Aqui, a ideia é trazer o Drácula para os tempos atuais, de uma maneira literal. Os mitos recorrentes na história – estaca, formas de matar, maneiras de conseguir sangue – elevam para novos jeitos de entender todo esse cosmo. O ar do romantismo presente nos primeiros episódios toma aqui ares diferenciados, com um questionamento: de que forma entendemos essa relação no século XXI? As mortes tomam espaço para um experimento sobre a figura do vampiro. Estaríamos todos colocados sempre sobre esse véu do científico? Até que ponto o sobrenatural encaixa-se nessas relações de entendimento de mundo? Esses questionamentos são levado a frente.

É complicado tentar fazer tudo que Drácula faz. Mesmo seguindo alguns passos e caminhos até comuns no seu início, ao abraçar cada vez mais as novidades é quando a produção realmente funciona. Os elementos colocados de frente elevam as possibilidades de vermos os personagens nesse mundo. Objeto de uma literatura de sua época, as diversas tentativas de modificação desse padrão foram bastante rechaçadas pelos fãs desde sempre. Porém, a busca aqui, desagradando a muitos, é realmente o novo. Ao colocar uma forma sempre de um filme de heróis, parecemos estar mais conectados com o universo do mundo atual do que nunca. Em conjunto, toda a literatura aparece presente ali. Talvez é isso que represente um clássico. Ser tudo e único ao mesmo tempo. E, pelo menos, é isso que a produção tenta trazer.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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