Crítica – Bridgerton (Primeira Temporada)

Séries de época ganham sempre destaque por muitos motivos errados. Enquantos muitas pessoas se importam mais com toda a ideia de realeza e grandes castelos e famílias, existem pontos mais curiosos sobre os personagens e peças que se envolvem nesse jogo. Em produções como Downtown Abbey, isso se torna mais interessante ao ponto de queremos compreender cada uma daquelas histórias. Existe um caráter até mais emotivo dentro desse desenvolvimento. Em Bridgerton, contudo, caminhamos para uma outra trajetória: a dos personagens que realmente não apetecem o público. Contudo, dentro desses seres até meio ocos, há uma intrigante conexão sobre poder, que se domina em todos os trajetos da primeira temporada da obra.

Baseado no primeiro livro de uma gigantesca série da escritora Julian Quinn, Bridgerton centraliza sua história na família de mesmo nome, uma das mais renomadas de Londres durante o período da Regência Britância (até os anos 20 do século XIX). A família tem, durante a temporada de casamentos, a filha mais velha Daphne (Phoebe Dynevor) em busca de um marido. Após ter sido elogiada pela rainha, ela ganha ainda mais status, podendo até chegar a escolher bem qual homem irá se unir. O problema é que tudo parece não ir bem pelo caminho desejado, até que ela decide por criar uma enganação com o duque Simon (Regé-Jean Page) para ambos terem o que desejam: ela, pretendentes; ele, tranquilidade.

Existe um caráter bem literário para a adaptação e o seriado não busca esconder em nenhum instante isso. Em certos momentos chega até a sobressair demais, especialmente quando acompanhamos alguns repetitivos diálogos sobre a corte, realeza e a temporada de casamentos. No entanto, é curioso como a direção dos oito episódios trabalha para explorar cada elementos central nas famílias que serão desenvolvidas ao longo da série. Além da principal, que dá título a obra, outra relevante são os Featherington, vizinhos de casa. Se os Bridgerton são muito mais liberais entre os seus – especialmente no papel da mulher dentro do âmbito familiar -, essa outra família está totalmente aglutinada no jogo que envolve a realeza.

A criação de Chris Van Dusen tenta, assim, explorar sempre uma espécie de jogo dúbio desse mundo. Enquanto certas pessoas buscam se manter totalmente dentro desse universo, tendendo a aceitar tudo que será imposto pela frente, outros buscam muito mais como uma forma de diversão. E isso desenvolve outros dois elementos fundamentais para os capítulos: a participação de controle total da rainha Charlotte (Golda Rosheuvel) e a misteriosa escritora de um folhetim de fofocas sobre as famílias, Lady Whistledown. Esses elementos se tornam preciosos para um entendimento maior das ironias palacianas, abrindo espaço para o seriado abusar de elementos até bobos e com resoluções ainda mais bobas, como toda a busca sobre Whistledown. Isso, que poderia ser ruim, acaba por virar divertido, uma forma de Bridgerton rir de si mesma.

Mesmo se repetindo em suas características até simplórias, algo que é explorado com exaustão no casal principal, é interessante como a série consegue desenvolver uma espécie de afeição aos personagens. Não, é quase impossível achar que todos ali são cativantes ou divertidos de se acompanharem. Isso além do fato que o curto tempo, não abre espaços para um maior desenvolvimento específico de mais de dois núcleos. Entretanto, essa afeição parte muito mais de um lado de querer que tudo dê certo, do que propriamente em algo maior.

Esbanjando sensualidade para conquistar um público ainda maior que os já muitos leitores dos livros, a primeira temporada de Bridgerton parece não saber muito bem até qual ponto pode ir das coisas. No entanto, quando abraça de vez uma certa bobeira sobre os palácios, constrói elementos curiosos sobre um mundo que parece muito mais antigo do que há 20 anos atrás. Esse lado todo arcaico, que poderia abrir margem para discussões sociais mais profundas, fica limitado a repetidas falas de alguns personagens – é, de fato, algo que poderia ser melhor desenvolvido em uma próxima temporada. Todavia, a série tem um objetivo bem simples: agradar. E nisso, ela não se arrisca, e atinge com perfeição.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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