Resenha – Dezenove Garras e um Pássaro Preto (Agustina Bazterrica)
Quando falamos de grandes nomes da literatura de fantasia e terror na atualidade, é impressionante ver como esse espaço está sendo ocupado cada vez mais por mulheres e de fora dos Estados Unidos. Ana Paula Maia, You-Jeong Jeong e Mariana Enriquez são alguns ótimas exemplos, neste sentido. Porém há outro nome latino-americano que também desponta com enorme sucesso dentro do gênero: Agustina Bazterrica. A autora começou suas publicações em 2013, mas foi ganhando cada vez mais espaço na literatura argetina até despontar com Saboroso Cadáver, em 2017, que chegou a vencer os Prêmio Clarín Novela e o Ladies of Horror Fiction Award.
Porém, diferente do estilo que mistura o visceral e o psicológico dos nomes citados anteriormente, Bazterrica tem uma característica que a torna única: o uso da primeira e terceira pessoa. Esse elemento é fundamental para a construção da tensão em suas tramas, quase sempre marcadas pelo início com estranheza, até a chegada em situações cada vez mais bizarras e absurdas – e o terror adentrando de vez nos acontecimento. É um pouco de todos esses componentes que podemos ler em Dezenove Garras e um Pássaro Preto, uma coletânea de quase 20 contos publicada no Brasil pela editora Darkside Books.
Essa questão dos pontos de vista se torna extremamente clara aqui pelo fato da autora usar isso como ferramenta do impacto visual. Ela se utiliza sempre de muitas descrições nos primeiros parágrafos, a fim de tornar o leitor como parte desse cosmo. E isso se torna muito difícil de ser feito em um conto, pela pouca quantidade de páginas. Entretanto, a argentina consegue realizar com uma proeza única, transformando seus personagens como seres igualmente esquisitos, quase em comcomitância a esse mundo que está sendo colocado.
Esse é um ponto importante para deixar o público em uma eterna atenção, o que constrói a mesma tensão. Mesmo que o horror não venha de forma tão direta ou da maneira como se está esperando, ele se faz presente no psicológico do leitor. Um exemplo claro disso é “Roberto”, conto que se usa de um possível elemento fantasioso para depois causar dúvidas sobre a veracidade ou não daquilo tudo. “Anita e a felicidade” é outro que se usa da expectativa para manter a tensão como central. É como se o público fosse, na realidade, o grande responsável pela revelação, pelo possível plot twist que irá acontecer. O problema é que, às vezes, ele pode nem acontecer. Ou não ser do jeito que se esperava.
Dessa forma, Dezenove Garras e um Pássaro Preto é uma espécie de livro dúbio para Agustina Bazterrica. Enquanto é uma obra perfeita para quem quer ter o primeiro contato com o trabalho da escritora, é também um texto que soa quase como uma pós-graduação da mesma. Assim sendo, ele pode servir para quaqluer tipo de público entre os interessados no terror possível que a autora faz. Ou seja, se prepare para a estranheza, bizarrice e, acima de tudo, pela curiosidade da sua mente após qualquer página de virada. Ah, e claro, para quais locais sua cabeça vai após uma lida.