Crítica: SCOOBY! O Filme
Os personagens da Hanna-Barbera, sem dúvida, marcaram a infância de muita gente. O estúdio entregou inúmeros personagens icônicos que povoam o imaginário internacional até hoje, como Os Flintstones, Os Jetsons, Os Smurfs, Corrida Maluca, Tom e Jerry, entre outros. Nenhum deles, porém, conseguiu alcançar o mesmo patamar na cultura que Scooby Doo. Mesmo com inúmeras reencarnações televisivas e filmes live-action, o grande cão medroso e seus amigos intrometidos passaram um bom tempo afastados das telonas, até esse ano, com SCOOBY! O Filme.
No entanto, este novo capítulo da franquia precisa de uma contextualização para entender o porquê de ele ser tão diferente (e, dadas as devidas escalas, importante). Além de servir como um reboot da Mistério S.A para novas audiências, o projeto também almeja iniciar um novo universo cinematográfico da Hanna-Barbera, trazendo todos os clássicos personagens das séries animadas juntos em novas aventuras.
Para contar esta nova história, o público descobre como Salsicha e Scooby se tornaram melhores amigos. Não demora muito para que a dupla conheça Fred, Daphne e Velma e logo se tornassem os famosos jovens detetives que viajam o mundo resolvendo mistérios. Quando Scooby e Salsicha se veem excluídos da turma, eles conhecem o herói Falcão Azul e seu parceiro Bionicão, que precisam da ajuda de Scooby Doo para impedir os misteriosos planos de Dick Vigarista. Enquanto isso, o resto da Mistério S.A. tenta descobrir o paradeiro de seus amigos.
A história começa de maneira muito forte, evocando de maneira sensível e eficiente os elementos que tanto fortaleceram essa franquia ao longo de 50 anos: a amizade entre os personagens e os mistérios que eles resolvem. Depois de quase perfeitos primeiros quinze minutos, o roteiro mostra seus problemas ao depender fortemente de piadas e elementos atuais. O que não seria um problema, se feito de maneira orgânica como as referências à smartphones, Harry Potter e super-heróis da DC no primeiro ato. Trazer Simon Cowell como uma figura importante no enredo mostra como ele está quase atrasado em diversos pontos, confuso qual audiência ele deseja atingir com seu texto.
Mesmo trazendo o nome do personagem no título e colocá-lo como protagonista, todo o mito e o universo de Scooby Doo é ignorado no filme de Tony Cervone. Ainda assim, isso poderia não ser um problema caso a história fosse focada nele. Mesmo tendo a amizade entre Scooby e Salsicha como elemento-chave na narrativa, o roteiro se preocupa muito mais em explorar a estética futurista e heroica de Falcão Azul e Bionicão (e até mesmo em desenvolver esses dois personagens, com seus passados e emoções), os planos de Dick Vigarista e até mesmo dando a eles pequenos assistentes robóticos. Muitas vezes, a impressão é que está se vendo uma adaptação de Meu Malvado Favorito com os personagens da Hanna-Barbera, chegando ao ponto de deixar de lado o trio Daphne, Fred e Velma em detrimento dessas novas figuras. Além disso, algumas soluções se mostram rápidas e incoerentes, por mais infantil e despreocupado que o filme fosse, como o resgate de um herói no clímax.
SCOOB!, que curiosamente também é da Warner Bros., tem um grande fator negativo em comum com os primeiros filmes do Universo Cinematográfico da DC: a pressa. Seria muito mais proveitoso trazer, neste primeiro capítulo, um mistério típico com máscaras e falsos fantasmas, com maiores proporções, e aparições e interações menores com personagens de outros desenhos que poderiam preparar terreno para uma futura reunião. Por outro lado, seria igualmente justo investir logo em uma história mais ampla, ao invés de inserir um universo que em nada combina ou funciona com os personagens da franquia do título.
Ainda assim, não deixa de ser uma aventura divertida de acompanhar, mesmo com a frustração de não ver personagens tão queridos em situações completamente diferentes e divergentes. A animação é fluida, vibrante e colorida, trazendo designs detalhados e vibrantes, em particular a nave do vilão Dick Vigarista e habilidades do Bionicão. Não surpreende, também, que Scooby Doo também se destaque nesse sentido, sendo trazido para a animação 3D sem mudar sua figura e ainda assim se adequando ao visual geral do filme. Por enquanto, não há versão dublada em português, mas todos os dubladores emulam bem a personalidade de seus personagens.
Este início do “Hanna-Barbera Cinematic Universe” é literalmente um festival de promessas, mas a propaganda quase enganosa do título não torna a experiência menos divertida. SCOOB! é regular, mas ainda merece atenção por mérito do time de animação e do carisma sempre estelar dos integrantes da Mistério S.A., mesmo em uma história que não sabe o que fazer com eles ou o seu legado.