Cobertura – 24ª Mostra de Tiradentes (Curtas)

Confira nossas críticas de curtas que estão participando da 24ª Mostra de Cinema de Tiradentes:

Quarta: Dia de Jogo

Mesmo não gostando de futebol, a ideia de quarta-feira como dia de futebol sempre foi levemente reconfortante pra mim. Na correria do dia a dia, saber que no meio da semana tem um evento festivo independente do que seja é muito agradável, como uma ilha de distração no meio da labuta. Quarta: dia de jogo até tenta capturar essa transição do trabalho pro lazer, mas suas imagens são tão soltas que acabam por não articular nada de fato, uma transmissão de rádio faz as vezes de narração, que também não dialoga com o que vemos, e breves entrevistas com alguns trabalhadores sobre temas variados, mas sem muito para oferecer uma coesão, uma unidade. Só capturar imagens aleatórias do cotidiano basta ?

Nota: 2/5

à beira do planeta mainha soprou a gente

Quando se fala em autoinvestigação, normalmente se pensa no indivíduo, olhar dentro de si mesmo, mas aquilo que está dentro de nós é moldado por aquilo que está fora, especialmente pela relação com nossos pais. à beira do planeta mainha soprou a gente é esse olhar para dentro e para fora de uma relação de um casal lésbicas com as suas respectivas mãe de modo bem poético, tanto nas palavras ditas – “eu quero doçura pintando meu nome”- quanto na forma,que é bem livre, agregando imagens de diversas formas, verticais,do cotidiano, outras mais evidentemente ensaiadas.

Á beira, dessa forma, consegue capturar as doçuras e amarguras dessa relação entre mães e filhas evidentemente carinhosa, mas cujos os espinhos são muito presentes. O amor “apesar de” que é uma tentativa de aproximação, mas que também enfatiza as barreiras existentes. É auto investigação, dissertação sobre relações maternais e um pouco de conflito entre gerações também, tudo em 13 minutos, uma lindeza absoluta.

Nota: 4/5

Noite de Seresta

Vivemos em tempos cínicos. Uma das dezenas de consequências das redes sociais é que se tornou moda fazer piadinhas cínicas sobre… bem, quase tudo. Estragar coisas que começaram de uma genuína vontade de compartilhar sentimentos é o nome do jogo. Como esquecer, por exemplo, do Vovô do Slime, cujos os vídeos simples em que tentava fazer o slime, levaram a uma série de acusações falsas de pedofilia? Se expor honestamente é uma tarefa complicada.

Noite de Seresta é uma celebração justamente desse ato de se expor, de ser uma pessoa aberta para o mundo, e isso se dá por meio de sua incrivel protagonista, a cantora de Karaokê Kátia Blander, que abre o filme falando “cantar é se expor”, e que bela exposição Sávio Fernandez e Muniz Filho fazem dessa personagem, abraçando-a e a sua arte de forma mais sincera possivel, com direito a clipe musical com chroma key, sem medo de ser brega, e na verdade, por que ter medo de tal coisa? “Besteira é bom pra fazer a gente rir” diz a cantora, e nada mais revolucionário que isso pode ser dito em um mundo que se leva tão a sério.

Nota: 5/5

Ela que mora no andar de cima

Dá pra se deixar levar pela superfície desse curta dirigido por Amarildo Martins, já que a ideia primária dele é muito boa e bem apresentada. Duas senhoras de terceira idade, uma mais tradicional (Marcélia Cartaxo) e outra com estética punk,cabelo estilizado e cheia de tatuagens, começam a se relacionar, a priori somente como amigas, mas é evidente que a primeira está terrivelmente apaixonada pela segunda. Existe um ar de comercial que cai muito bem nessas cenas que evidenciam a idealização que uma tem pela outra.

Mas isso é a superfície, e, muito pontualmente, há indicações de que essa paixão não é algo assim tão puro, e até mesmo letal para uma das partes. É tudo muito sutil, mas é eficaz em construir um clima desconcertante, mesmo banhado em certa fofura. É como um truque de mágica, que te faz olhar para um lado, quando você provavelmente deveria estar olhando para outro.

Nota: 3,5/5

Enterrado no Quintal

É fácil se portar de modo violento, há poder em levantar a camisa para mostrar a pistola e afastar o inimigo de modo imediato e eficaz. Mas e praticar a violência em si? Talvez seja um pouco mais complicado. É nessa dualidade que Enterrado no Quintal navega. A arma, objeto central da trama, ganha peso duplo, é escudo, mas também marca a inevitabilidade do ato que a protagonista deseja cometer. A encenação do uso dela como escudo é cool, com as duas figuras se encarando como pistoleiros em um faroeste. Mas o que será cometido com ela pesa, e os tiros fazem a câmera tremer, desestabilizando aquele mundo. A influência de Michael Mann é clara, especialmente na estética digital ruidosa, mas não consigo deixar de ver um pouco de Hotline Miami ali, especialmente no figurino da protagonista em alguns momentos, e até na trilha sonora. Influências melhores não existem para um curta que olha a violência de modo mais aprofundado.

Nota: 4/5

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