Crítica – In The Fire
De cara, In The Fire é um filme que se vende bem mais para o que está no exterior dele e o rondando, do que propriamente pela produção em si. Isso se deve ao fato de que é o primeiro projeto da atriz Amber Heard após sua disputa no tribunal intensa contra o ex-marido Johnny Depp, com os dois se acusando de agressão. De toda forma, o longa poderia ser uma espécie de guinada novamente na carreira, que vinha em alta após virar Mera em Aquaman e Liga da Justiça. Infelizmente, ela poderia ter escolhido algo um pouco melhor.
Porém, não dá para culpar inteiramente Heard pelo fato de que, inicialmente, In The Fire é um grande filme em teoria. Possui ideias que constroem um universo muito particular. Esse, nos Estados Unidos em 1890, quando a psicóloga Grace Burnham (Amber Heard) vai para uma cidade no interior para fazer o tratamento e entender a cabeça do jovem Martin (Lorenzo McGovern Zaini), um menino acusado de matar a mãe, que tem habilidades especiais e estaria com o demônio no corpo. Enquanto ela busca uma explicação científica, a Igreja local quer matar o garoto e acabar com a sina e estragos que rondam a região.
Como dito anteriormente, o longa de Conor Allyn soa intrigante de cara. E isso por dois aspectos bem claros, na qual ele quer desenvolver no decorrer da narrativa: o embate entre ciência e religião, e a construção de uma espécie de nova inquisição dentro do local. O diretor faz de todo esse ambiente quase uma nova ideia para o julgamento das bruxas, até chegando a fazer referências diretas sobre o tema – quando um padre cita a morte de uma ou quando a protagonista é literalemnte chamada de bruxa. Todavia, tudo realmente está apenas no campo das ideias. Na realidade, a obra não sabe bem como vai querer chegar nisso.
Um dos exemplos crônicos disso é a forma como Allyn tenta transmutar entre gêneros o filme. Inicialmente, em um drama com elementos de suspense. Depois, em realmente um suspense, com toques de terror. Até chega próximo da ação. Se essas mudanças bruscas e repentinas podem fazer bem a algum projeto, aqui deixam tudo ainda mais perdido. Junto disso, o embate que fundamenta a trama entre fé e razão, por assim dizer, sempre aparece quase como uma obrigatoriedade na relação de Grace com o Padre Antônio (Luca Calvani), que atua na plantação em que Martin vive.
Em alguns momentos, a obra chega até a querer ir mais profundamente sobre o assunto ao abordar uma espécie de construção da identidade americana sob esse embate. Por isso, institui o tema do faroeste, pelo qual o garoto é apaixonado e vê no pai um cowboy. Mais uma vez, é um parêntese aberto que nunca é fechado e sempre fica jogado de um lado para outro. Afim de lembrar disso, a direção chega até a colocar uma sequência que rememora um western no grande clímax.
Talvez para In The Fire seja realmente melhor se vender como novo filme de Amber Heard apenas e esquecer que tem algo a ser contado ali. Em um longa cheio de ideias que nenhuma parece ser executada corretamente, soa quase como se a trama precisasse ser jogada de formas aleatórias. Tudo nesse projeto soa como se fosse apressado ou feito de forma esquisita. É até meio difícil de entender. Espero, pelo menos, que quem fez ele entenda o que foi realizado.
Essa crítica faz parte da cobertura do Senta Aí do Festival do Rio 2023