Crítica – Pam and Tommy
O relacionamento entre Pamela Anderson e Tommy Lee é, até os dias de hoje, cercado de polêmicas e confusões. Desde casos de agressões, até mesmo a paixão desenfreada, que fez com que eles casassem muito rapidamente. No entanto, talvez uma das maiores memórias públicas dessa conturbada relação, que demonstra muito o que era o entretenimento e a mídia nos anos 1990, foi a sextape vazada. O caso já gerou diversos debates na Justiça americana e nunca chegou a nenhuma condenação e nem presos. Entretanto, foi fator fundamental para solidificar a imagem de “bad boy” do baterista do Motley Crue, e de sexualizar – ainda mais – a atriz e modelo de Baywatch.
Todo esse julgamento pela mídia e as transformações das carreiras estão presentes na série Pam and Tommy, lançada no Star+, que traz uma ficcionalização dos eventos reais. Retomamos desde os primeiros anos do casal, mas, antes, conhecemos Rand (Seth Rogen), que trabalha na casa de Tommy (Sebastian Stan) para fazer uma reforma em um dos quartos. Por lá, ele começa a sofrer sanções após ver Pamela (Lily James) pela primeira vez. O caso vai aumentando até que ele é demitido, mesmo tendo um grande dinheiro a receber. Como troco, Rand invade a casa do rockstar e rouba diversos de seus equipamentos. Entre eles, uma fita, com a gravação de uma viagem da dupla, incluindo cenas de sexo.
Fica bem óbvia a forma como showrunner Robert Siegel pensou essa narrativa. São duas trajetórias bem específicas levadas em conta para a construção desses personagens. A primeira coletiva, de todo o desenvolvimento após a sextape vir a público e sobre como a grande massa reverbera o assunto. Ao mesmo tempo, o tópico se transforma em base nos diversos meios de comunicação, trazendo problemas claros para a carreira do casal. A segunda individual, a partir do sofrimento de Pamela. Ela, a qual conhecemos como uma menina com o sonho de ser uma estrela, fica fadada a algo único. É apenas uma mulher sexy, que precisa seguir esse papel por toda a vida, e sofre com o machismo encarnado na sociedade.
Pam and Tommy trilha esses dois caminhos, para chegar na conclusão explícita de que essas duas personalidades não conseguem conviver. Se as duas histórias que são apresentadas tem um lado do coletivo e individual, as suas reveberações são contrárias. No primeiro, Tommy pensa apenas nas consequências para a própria carreira e em como o relacionamento dos dois será afetado para a sua imagem. Já na segunda, Pamela está preocupada na relação, que já não anda bem, e em como salvar os dois. Esse joguete é importante para compreender como o seriado quer trazer uma complexidade quase moral dos fatos.
Mesmo assim, é curioso como a forma dos episódios vai trilhar uma condição mais cômica de tudo que está acontecendo (e o protagonista desse primeiro momento ser Rend reforça isso), para passar ao drama estabelecido dentro da sociedade estadunidense. Essa questão fica bem direta quando, inicialmente, vemos toda uma indústria pelos bastidores, como a visão de fora de uma cena pornô ou, até mesmo, a conversa com os diretores. Isso para, depois, termos esse mesmo contato pela visão do telespectador – a qual a própria Pamela vai se transformando.
Os oito episódios de Pam and Tommy não tem uma busca fiel de reproduzir os acontecimentos que demarcaram o mundo dos famosos na década de 90, mesmo conseguindo em certos instantes. O caminho trilhado por Robert Siegel com os personagens é discutir a construção imagética da mídia com essas mesmas figuras, e de que maneira eles ficarão eternamente afetados – seja para o bem, ou para o mal. No fim das contas, é uma trama em que não há vencedores e nem espaço para as piadas nos minutos finais (como são a tônica dos três primeiros capítulos). Apenas o sofrimento, especialmente feminino, de como tudo aquilo foi causado.