A problemática social em Virgem Depois Dos 30
É impossível falar sobre a humanidade sem suas próprias problemáticas sociais. Por exemplo, desde sempre tivemos que lidar com a fome, as guerras, o patriarcado e muito mais – com as devidas diferenças para cada região. Com o passar das décadas essas problemáticas se tornam diferentes e o sexo vira um grande tabu. O movimento de libertação sexual, especialmente atrelado ao feminismo, trouxe novas variáveis para esse debate, especialmente sobre o corpo.
Bom, parando para pensar no território brasileiro, isso talvez seja um empecilho em relação ao grande número de jovens grávidas. Esse número já aumentou e abaixou, mas ainda está no ceio do meio social. No Japão, essa questão parece ser quase ao contrário. Cada vez mais homens mais velhos ficam virgens depois dos 30 anos de idadade. É uma relação totalmente social, especialmente relacionada com o desenvolvimento das relações do dia-a-dia. Precisando entender mais sobre essa adversidade, o quadrinista Atuhiko Nakamura resolveu ouvir esses homens. Ele realizou, assim, Virgem Depois Dos 30.
É interessante perceber toda a tratativa da narrativa proposta pelo autor e a sua relação com a forma que isso acontece. Enquanto sua temática é bastante pesada em algumas partes até bizarra, olhando sob algumas óticas, os desenhos de Bargain Sakuraichi trazem um lado mais cômico. Não de o sentido proposto ser realmente um alívio da comédia, mas apenas para suavir a grande situação. Dessa maneira, os traços acabam sendo sempre mais grossos, salientando bastante as expressões faciais de cada um dos personagens. Isso gera até uma coerência interna pelo fato de Nakamura usar a concepção do mangá para criticar como esses seres são tratados. Ao buscar um caminho mais clichê, então, ele traz uma ácida fala sobre a visão distorcida dessas pessoas e na qual temos das mesmas.
Acima de qualquer outro debate, o quadrinista busca explorar até o limite os pontos intrínsecos ao seu assunto. Um exemplo claro é quando se aborda um desses virgens sendo de extrema-direita da internet. Ele, reconhecido já digitalmente e fora por ter ideias altamente preconceituosas, possui muito mais camadas quando explorado de perto. Por isso, o intrigante texto sempre trabalha uma quase dualidade da fala dessas personas e de comentários em cima deles. O fim de cada capítulo com uma exploração bastante acadêmica até, exacerba esse caminho de entender a complexidadade de pontos relacionado a esses indivíduos. Ao se colocar sempre como uma voz na história, Atuhiko busca um olhar bastante observatório e participativo. Ele busca não resolver, todavia chegar ao limite de entender o porque disso ser realmente uma problemática no país.
Alguns excelentes momentos também acabam sendo conectados com os conteúdos meramente sexuais. Afinal, sexo é uma relação totalmente carnal e porque isso é levado a máxima potência por alguns? Um dos casos mostra um homem que quer ter relações com a pessoa certa e não tem medo de demorar muito, mesmo isso se transformando em uma problemática no seu cotidiano. Enquanto isso, outro se sente tão mal por nunca ter realizado, chegando ao ponto de simplesmente relacionar com homens para saber a sensação. Ele não é homossexual e até demonstra não ter prazer em nada, apenas estar buscando pela vontade.
É com ele, especificamente, na qual traz toda a discussão sobre as relações sociais cotidianas serem o foco principal disso. Esse homem possui uma auto-estima totalmente baixa e sem uma perspectiva de conhecer pessoas novas. Ele simplesmente está vivendo. Apesar disso, segundo dito pelo quadrinista, ele é bonito, charmoso, atrai atenção de algumas mulheres e ainda parecia ter uma possibilidade. Mesmo sendo um caso bastante separado e até quase paralelo, ele representa o real sentido dessa dificuldade proposta pela sociedade. É como se todos os estigmas sociais estivessem ao limite com eles – algo dito claramente pelos entrevistado em culpabilização do sexo oposto por ‘não dar oportunidade’.
Caso você acredite estar encontrando uma trama cômica, é melhor ir para outros caminhos. Virgem Depois Dos 30 sabe muito bem aonde quer chegar de que formas irá chegar nisso. É impressionante o talento narrativo de Atsuhiko Nakamura de emaranhar todas essas pequenas trajetórias e transformar em uma pesquisa de campo. Em um mangá-documentário, ele busca entender questões muito mais relacionadas a história do Japão e ao atual período do mundo. Ao fazer uma crítica bastante direta ao tratamento dessas pessoas (e os culpando ao mesmo tempo), seu tratamento idealiza um conceito transformador com sua obra. Um objetivo de não necessariamente não terem mais virgens no país, mas sim de entender o passado para construir o presente.