Bumblebee é tudo que Transformers sempre poderia ter sido

A franquia Transformers, fora o sucesso nas bilheterias, nunca foi uma intensa unanimidade. Dentre os diversos problemas, as maiorias críticas que a franquia recebia era pela duração cansativa dos longas em sua ação desenfreada, com explosões até demais e uma direção tremida de Michael Bay. O spin-off da franquia chega para ser um diferencial dentro dessa tendência da saga, em diversos fatores. Trazendo uma nova atmosfera e uma sinergia única, Bumblebee traz de volta o tom que o cinema de ação parecia ter perdido nos anos 90.

O ano é 1987. Há uma guerra em curso no planeta Cybertron entre Autobots e Decepticons. No meio disso tudo, Bumblebee é enviado para a Terra com o objetivo de criar uma nova base de resistência. Durante sua estadia, ele acaba se escondendo sob a forma de um fusca amarelo caído aos pedaços. Porém, quando resgatado pela jovem Charlie (Hailee Steinfeld), o robô retoma sua forma original. Charlie percebe, então, que seu amigo não é apenas um carro.

A direção de Travis Knight possui um senso de fantasia pueril nunca presente no trabalho de Bay. Os incêndios e explosões dão lugar a uma aventura em roupagem de “coming of age”, que é como são chamados os filmes sobre amadurecimento, juventude e início da vida adulta. Aliás, Knight sabe dosar o tom de uma obra adolescente de forma extremamente satisfatória, gerando uma linha narrativa para a protagonista deveras intrigante, principalmente quanto ao relacionamento do núcleo familiar. A falta de uma amizade abre espaço para um relacionamento bem fácil com o robô, no ponto em que Charlie, em nenhum instante, o observa como uma figura aterrorizante. A câmera brinca sempre com um sentido de proporção na apresentação de Bumblebee a cada um dos personagens rondando a trama, seja através de plongées(câmera de cima para baixo) para os humanos ou contraplongées (de baixo para cima) para o ser. Esse sentido cria sempre uma atmosfera de dupla ameaça, seja no embate de espécies ou até uma representação de tamanho.

Quando a película se assume na formatação adolescente, é o período mais funcional de todos os 113 minutos da fita. É ali que Knight brinca com os típicos dilemas da idade, como os confrontos com as meninas populares, momento que acaba resultando em uma ótima cena cômica com o robô, e se estendendo até mesmo sobre o campo amoroso. Memo (Jorge Lendeborg Jr.) é o ponto chave dessas sequências de amadurecimento romântico, embora o personagem sirva mais para despertar uma paixão em Charlie do que para acrescentar mais à trama. Aliás, esse é um dos maiores empecilhos do longa: ele não sabe como utilizar diversos personagens, ainda que cada um possua sua importância em determinadas sequências específicas. Enquanto Memo traz esse lado jovem, o Agente Burns (John Cena) representa um momento de perigo para a heroína, porém sempre de forma superficial. Existe um claro problema de balanço de tom, fazendo com que a obra pareça perdida em diversos instantes.

Existem dois momentos específicos para a ação presente aqui. No primeiro, é a pontuada em boa parte da história, como a cena de abertura, sempre mais plastificada e genérica. Mesmo que o cineasta consiga ainda dar o seu jeito nessas sequências, principalmente nos momentos de uma câmera acompanhando as lutas, ainda há um fator totalmente artificial nas explosões e batalhas. Entretanto, o terceiro ato é uma criação bem própria de Travis, principalmente em relação ao uso do ambiente nas cenas. Há uma certa inventividade nos espaços pautados pela fotografia de Enrique Chediak, ao sempre ser confusa dentro da mise-en-scène (geografia da cena), lembrando longas como Exterminador do Futuro e Stallone Cobra. Isso pode ser exemplificado na cena da luta dentro da barreira de água, transformando a locação em uma espécie de arena, algo que aumenta o fator de extravasão do público no cinema.

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Bumblebee é um filme divertido, que traz um frescor mais do que necessário à franquia Transformers. Para além da direção imersiva de Travis Knight, a película sabe bem como ser uma referência aos fãs e agradar ao cinema de ação, que ultimamente tem sido intensamente focado nos heróis. Há também a criação de uma grande atmosfera temporal, com a escolha de canções remetendo ao período (como The Smiths, Motorhead, entre outros) e uma escolha pelo amarelo sempre nas cores, afim de gerar o conforto trazido pelo alien. Mais do que um bom trabalho,  “Bumblebee” dá novos rumos para uma saga escondida por si mesma.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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