Crítica – 5x Comédia
O período de isolamento social e pandemia foi suficiente para a criação de diversas obras culturais envolvendo as complicações do momento. A necessidade do uso constante da máscara, de álcool em gel, além das mudanças nas relações sociais pela dificuldade de ver um ao outro. Tal tema está presente de forma constante agora na TV, por exemplo, com Amor de Mãe, mas também se espalhou de form onipresente em filmes, livros e mais que buscam retratar a situação. Foi nessa ideia que a cineasta Monique Gardenberg quis usar a ideia da peça 5x Comédia para adaptar em uma série com cinco diferentes situações em meio a pandemia.
De forma estrutural, é até bem divertida a ideia de traduzir todo esse sentimento para um formato cômico. Enquanto as tragédias se acumulam pelo país, que já chegou a faixa dos 3 mil mortos por dia, acaba sendo necessário um tom mais alegre para diversas situações que vivenciamos. A diretora tenta traduzir isso de um formato extremamente exagerado para todas as circunstâncias. Um dos exemplos é no primeiro episódio, “Hipocondríaco”, em que vemos o personagem de Gregório Duvivier entrar em pânico apenas por ter acordado com um nariz entupido. A ânsia na situação acaba formando a busca mais tragicômica do capítulo, assim como em outros que aparecem pela frente.
Apesar disso, essa ideia de explorar o muito acaba funcionando pouco para transformar as situações em graça. Na maior parte do tempo, os episódios sempre parecem bobos, querendo quase repetir o que já sabemos e vivemos no dia a dia. Porém, esses olhar interior, funcionaria se estivéssemos no início dos efeitos do coronavírus sob o país, não depois de mais de um ano nessa situação. Sendo assim, a repetição de elementos em diversos capítulos – como a necessidade de passar álcool em tudo, por exemplo – soam sempre uma tentativa de enganar o público com algo que ele já tem a plena noção.
Por isso mesmo, apenas em “Colapso” e “Sem Saída” toda a encenação proposta em 5x Comédia funciona. São nesses episódios que se usa mais do elemento dramático para buscar um lado real da coisa. No primeiro um pouco menos, já que a parte mais interessante é por conta do relacionamento do casal através das videochamadas e de como a crítica proposta adentra na narrativa. Já no segundo, a construção do relacionamento através de uma espécie de “flashback” consolida o elemento futuro das fugas que se estão atrás no meio da quarentena. O maior enfoque nesses dois capítulos é, justamente, o desenvolvimento sólido de personagens que buscam formas de fugir se si mesmos em meio a um complexo momento.
A tentativa de crítica, no entanto, fica sempre bastante rasa. Talvez teria sido mais interessante para a série assumir ou um lado ou outro. Ou buscar realmente uma brincadeira critica, quase transformando as situações em paródia – o que, se foi a intenção, nunca consegue alcançar -, ou assumir toda a comicidade desse elemento trágico e de formas que as pessoas estão lidando, transportado pelos personagens. Ao não parecer que quer tatear uma coisa nem outra, é possível ver como a obra carece de uma identidade e de elementos que a transformem em uma unidade.
Como primeiro seriado de ficção do Prime Video, 5x Comédia é uma clara tentativa de correr atrás de um público que busca refletir sobre suas experiências no momento de pandemia. Mesmo assim, falta identidade e características próprias que definam a produção como ela mesma. Ao fim de tudo, parecemos ver cinco episódios tão separados um do outro narrativamente e na forma que abordam a temática, que nem uma antologia chega a estar claro. Desse jeito, talvez faltasse uma verdadeira necessidade de adquirir um objetivo a ser buscado. Se era ser mais dramática ou cômica, pouco importa. Mas que isso faz muita falta, isso faz.