Resenha – Esforços Olímpicos (Anelise Chen)

Athena é uma mulher confusa sobre tudo. E isso se atrela muito ao seu campo de estudos, que são os esportes. No entanto, o pensamento desenvolvido entorno dessa área não está atrelado a algo como resultados ou a história, mas sim em relação a como o corpo reage nisso. Assim, ela gosta de sempre usar como base cada situação estudada como forma de buscar compreender as pessoas ao seu redor. Tudo isso se torna ainda mais claro quando, certo dia, comete suicídio. A partir disso, ela vai começar a se questionar sobre tudo, buscando entender o porquê de buscarmos sempre o lado mais físico, quando o psicológico importa muito.

Pode parecer bobas essas ideias, mas a forma como Anelise Chen as transborda em Esforços Olímpicos, lançado pela editora Todavia, é interessante. E esse quesito é trabalho especialmente em dois fatores: toda a relação sempre complexa sobre a ideia de vitória e como Athena está lidando com a vida se sentindo cada vez mais próxima do seu amigo que partiu. Apesar de serem trabalhados em conceitos diferentes dentro da obra, ambos acabam estando em caminhos até bem próximos, já que envolvem sempre uma discussão da busca eterna por chegar em algum lugar. Para isso, a protagonista busca, em um diálogo sempre consigo mesma, entender a forma como cada pessoa pode encarar a vida.

O ponto que mais interessa para Chen é realmente trabalhar as diversas maneiras que Athena lida com tudo isso. Essa característica é totalmente colocada pela forma que a narrativa é feita, sempre através de uma espécie de escritos dela. Seus pensamentos – que também tem uma constante relação de autobiografia -, acabam sempre atrelados no conceito de como o esporte está fundamentalmente desenvolvido nas relações humanas. Assim, como é possível ter a melhor performance dentro das piscinas, se não está relacionada a uma busca eterna por vencer. Em uma das passagens do livro que melhor representam isso, é quando a personagem destaca uma pesquisa que mostra a forma como os atletas lidam com a ideia de vencer. Se nem eles, que vivem a carreira toda atrás disso, conseguem sempre ter esses pensamentos em mente, por que as simples pessoas normais teriam?

A autora trabalha essas relações em Esforços Olímpicos de forma a transormar o seu texto em uma intensa análise e estudo de personagem. Ao trabalhar toda a narrativa de um ponto de vista apenas únicos (por exemplo, ela tem todo o espaço para se defender da falta de relacionamentos amorosos), ela abre espaço para um trabalho de sempre autoconsciência da protagonista. É como se sempre estivéssemos vendo Athena de uma perspectiva analista, quase que em um psicólogo. Ao adentramos dentro de sua pense, que é esboçada no livro quase como um fluxo de pensamento, buscando tentar compreender os motivos de suas desesperanças.

Afinal, quem realmente nunca ficou desesperado ou percebeu que poderia não alcançar nada na vida? Anelise Chen tenta tratar seu texto de um olhar quase acolhedor, como se a vitória da existência fosse uma mera possibilidade, e não uma verdade absoluta para todos os humanos. Mesmo assim, isso está sempre sendo vendido a nossa porta e entregues de diversas formas na nossa vida. Esforços Olímpicos cria um curioso paralelo do lado filosófico e físico da profissão de atleta. Ao nos observarmos em uma personagem cheia de medos e angústias, também nos colocamos como uma pessoa capaz de assumir erros e fragilidades. A busca do livro é justamente de Athena, simplesmente, alcançar isso. Assim como todos estamos atrás em nossas vidas.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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