Crítica – A Noite Amarela

A palma da mão de uma pessoa se abre. Vemos quase um mundo infinito, repleto de diversas questões. De certa forma, é nesse ambiente que se passa A Noite Amarela, o das possibilidades. Isso pelo fato de estarmos acompanhando uma trajetória de diversos adolescentes crescendo a partir de uma viagem realizada. O contexto? Uma pequena ilha no Nordeste, afim de celebrar o ensino médio. Eles vão até uma casa ali da família de Karina (Rana Sui), na qual demoram a entender certos elementos do lugar. Nisso tudo, acabam percebendo que estão sendo perseguidos por algo que não entendem bem o que poderia ser.

O ambiente de uma ilha, no qual transita entre um ambiente claustrofóbico (pelo fato do isolamento), ao mesmo tempo que é um lugar aberto, permite elevar o caráter imaginativo da obra. O diretor Ramon Porto Mota sabe entender essa relação para seus personagens, no auge de um lado sexual e impulsivo. No primeiro sentido, eles pouco afloram, contudo estão sempre relacionados com seus corpos para quaisquer ação – a cena do personagem falando sobre como quer morrer ilustra bem isso. Já no segundo, estamos em torno de uma obra com base nisso. A impulsão de todos esses jovens toma conta da narrativa sobre o medo do crescimento e da maturidade.

O longa rememora bastante, nesse sentido, produções como A Hora do Lobo, de Ingmar Bergman, e Mate-me Por Favor, de Anita Rocha Silveira. As buscas no primeiro ficam em torno desse isolamento causador de uma espécie de distúrbio psicológico. O real e o imaginário se misturam afim de nunca entermos realmente o que poderia estar atrás dessas figuras em A Noite Amarela. Elas parecem já mortas, sempre sendo lembradas mesmo pelas telas dos celulares, como se fossem uma lembrança para não cair no esquecimento. Já sobre o segundo, a questão vai mais em torno do trabalho em torno de não entender o espaço no mundo. A cena na qual há uma disputa musical reflete bem sobre os diversos papéis sociais preteridos por cada pessoa.

Apesar disso tudo, estamos a frente de um longa de horror. Seu papel crasso em termos de gênero vai em torno da ambientação muito forte. Não há uma relação mais forte corporal ou até física proposta no gore, por exemplo, clássicas de um slasher. Todavia, as bases de um slasher também estão presentes, nessa questão da fuga da juventude e o medo de uma figura desconhecida. No caso dos clássicos (Sexta-Feira 13, Halloween, entre outros), isso vai em torno de uma pessoa. Aqui, é mais sobre um sentimento de não apropriação. Um sentimento de morte constante da vida. Contudo, essa morte é sempre em vias de uma nova abertura, agora em termos de entender suas responsabilidades do tempo. O fato deles chegarem a uma casa para administra-lá mostra bem esse papel.

Estamos confrontados por um filme bem interessado no lado da vida de suas figuras. Se a morte é algo recorrente no terror, aqui isso está mais em voga para a percepção de como viver. A Noite Amarela entende como os jovens dos diversos mundos possuem sua mesma questão: tentar ser compreendido pelo mundo a sua volta. Para isso, Ramon também parece entender certeiramente a construção de uma mística para o simples motivo de crescimento. Ter responsabilidades tranforma-se em uma grande pressão, a mesma feita pelos amigos em torno de qualquer coisa. Essas pessoas na qual irão ser construídas para o futuro, parecem nem bem saber como viver o presente. Seus corpos estão presos nessa relação bem intrínseca ao lado temporal, tentando manter firme no tempo, agarrando demais ao mesmo (por isso o celular). As personas aqui não possuem máscaras, apenas querem as tirá-las para confrontar os anos.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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