Crítica – Fale com Abelhas

Histórias sobre romances homoafetivos tendem a ter uma característica bem comum: tristeza. Isso porque, excluídos e sofrendo preconceito por parte da sociedade, tais indivíduos são, em sua maioria, marginalizados nessas narrativas. Não digo que é algo que aconteça, apenas que as obras que retratam isso buscam justamente essa questão. O famoso livro de Fiona Shaw, Tell it to the Bees, segue um pouco disso, ao abordar o relacionamento “impossível” entre duas mulheres. Agora, lançando oficialmente no Brasil, sua adaptação Fale com Abelhas, segue uma toada e pensamento bem similar.

A história acompanha a vida em uma vila nos anos 1950, em que Lydia (Holliday Grainger) trabalha em uma fábrica, mas com salário insuficiente para conseguir sobreviver com seu filho Charlie (Gregor Selkirk). O seu marido Robert (Emun Elliott) retorna diferente da guerra e começa a abandonar a família. Na cidade, se comenta que a mulher seria responsável por esse destino. Assim, despejadas, elas vão para a casa da única pessoa próxima, Jean (Anna Paquin). Também vítima de mal falados na vila, ela conquista o carinho de Charlie ao mostrar para ele colmeias que tem no quintal. Assim, a mulher acaba contratando Lydia como sua governanta, fazendo com que ambas se aproximem cada vez mais.

Apesar de ser uma narrativa que abraça o elemento melodramático como padrão, o filme até tenta abrir possibilidades de explorar como esse mundo existe. Dessa forma, a cineasta Annabel Jankel (responsável pelo terrível Super Mario Bros., de 1993) tenta fazer um paralelo bem claro com todos os acontecimentos através das abelhas. Jankel deixa um tempo da sua câmera para filmá-las, além do cuidado de cada um dos personagens com as mesmas. É como se essas fossem um último subterfúgio para essa vida cheia de desesperanças. Da mesma forma, também é uma celebração da aproximação das duas mulheres, que começam a se sentir cada vez mais próximas.

Apesar disso, Fale com Abelhas tenta abusar de uma condição dramática que é construída sempre através de uma repetição. Se alguns criticaram Pieces of a Woman por fazer seus personagens sofrerem, aqui isso está totalmente claro, justamente pelo fato de as duas quase não verem uma escapatória, a não ser aceitar esse mundo a sua volta de julgamento. O grande problema é a narrativa criar em seu universo apenas um vazio sobre esse sentimento. Tudo que vemos é muito menos uma rejeição do que é propriamente falado por todas as partes. Ao contrário do feito, por exemplo, em O Mundo é Culpado, de Ida Lupino, ao abordar o estrupro.

É até curioso como o longa tenta sair de um caminho comum ao tratar a história de mulheres no período, ainda mais essas, totalmente crucificadas pela vida. Apesar disso, ressoa quase como se Annabel Jankel estivesse buscando uma verborragia o tempo inteiro para expressar questões que poderiam ser trabalhadas imageticamente. A importância de Fale com Abelhas não se apaga, porém não é só de temas importantes que um bom filme é feito. E, esse aqui, passa bem longe disso.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *