Resenha – EP In The Darkest Of Nights, Let The Birds Sing (Foster The People)
Uma das poucas bandas que sempre manteve uma DNA bem próprio e não abraçava de vez o indie, dentro do gênero do rock alternativo/pop alternativo, era o Foster The People. Isso não era algo brilhante, justamente pelo fato da banda ter vindo em uma grande decadência com seu último CD, o Sacred Hearts Club. Não é possível saber se sim ou se não, no entanto o grupo resolveu buscar algo novo em sua sonoridade, o que trouxe, definitivamente, algo curioso e interessante. Mais do que caminhar ao indie pop/rock, o Foster chega com os pés no progressivo – em que já flertou em algumas faixas – no EP In The Darkest Of Nights, Let The Birds Sing.
Tudo começa com a música quase de veraneio, “Walk With a Big Stick”. Clássica canção para estar presente em futuros shows também, por ser bastante ritmada, é um pouco de umas boas vindas do que a banda estará buscando pela frente. Com um riff bem constante e uma estranheza ao mesmo tempo, fazem “Walk” até parecer um pouco com o trabalho que o Foster The People já realizou, algo enfatizado pelos back vocals e barulhos produzidas ao fundo. Apesar disso, o clima quase de praia que o riff principal passa relembra até músicas recentes de Harry Styles.
A sequência com “Cadillac” e “Lamb’s Wool” já destoam um pouco da primeira faixa, mas dão o tom do que poderá ser visto ao futuro do grupo. A primeira poderia ser tranquilamente feita pelo Arctic Monkeys em sua fase do AM, com uma certa vitalidade provocante, ao mesmo tempo que um clima meio de rock dos anos 50. É uma canção bem marcante, o que também gera curiosidades sobre seu uso em um EP e não para um álbum específico. Já a segunda, abraça bem o lado da psicodelia e progressivo, sendo uma música que poderíamos escutar pelo Tame Impala, que idealiza um trabalho consistentemente parecido. Até a própria voz do vocalista Mark Foster reforça isso.
“The Things We Do” é talvez o melhor dos dois mundos. Tem o eletrônico pop característico do Foster, ao mesmo tempo que traz inovações em um estilo bem puxado para as distorções na voz e uma batida quase de balada em certos instantes. Mesmo assim, o refrão reforça o quanto estamos vendo o grupo verdadeiramente trabalhando, em clássicas frases chicletes, como “All alone; All the things that we do when we’re left on our own”. Apesar dos pesares, é talvez a faixa que mais pode agradar os fãs antigos – e isso, com diferenças em toda parte. É synthwave puro.
O EP finaliza com “Under The Moon” e “Your Heart Is My Home”. A primeira é a mais fraca de todas, que parece não haver tanta identidade. Há uma tentativa de abraçar diversas formas de realizar música e gêneros, passando de um lado meio Johnny Cash na voz, chegando até um lado mais voltado a um progressivo diretamente. Contudo, é uma canção que faz sentido dentro da transição de trabalho. A derradeira também traz pouca coisa de especial, consolidando como lado mais fraco dessa obra. Contudo, impossível não destacar todo o lado do abraço ao psicodélico que é feito bem de cara, mas também olhando para uma grande homenagem ao shynth pop e post punk, de bandas como New Order.
É impossível saber com exatidão para qual caminho o Foster The People quer caminhar, mas In The Darkest Of Nights, Let The Birds Sing mostra que algo tem sido trilhado pelos integrantes. E isso, sem dúvida, pode desagradar os fãs que viam no último CD de 2017 uma mudança para um lado positivo. O grupo quase olha para si mesmo e tenta remexer profundamente em suas influências para observar um trajeto novo. Esse, de olhar com maior carinho para o indie rock, progressivo e as diversas tendências que o mundo aglutina atualmente na música alternativa. Ao mesmo tempo, é também observar a si mesmo, como um estágio eterno de mudança.
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