Por que The Marvelous Mrs. Maisel é a comédia do momento?

Quando The Marvelous Mrs. Maisel estreou nas últimas semanas de 2017, dificilmente alguém imaginaria o fenômeno que a série se tornaria. Amy Sherman-Palladino teve sete anos de sucesso com o público na comédia Gilmore Girls, uma das produções mais aclamadas pela crítica do canal The WB. Após o fim súbito do programa, Sherman-Palladino tentou emplacar duas novas obras em horário nobre da tevê americana, mas não deu certo. Foi somente ao assinar com a Amazon Prime Video, o serviço de streaming da Amazon, que ela teria seu maior sucesso. Após disponibilizar o episódio piloto de Mrs. Maisel entre vários outros para que o assinantes do serviço escolhessem qual deveria ganhar uma temporada completa, ela recebeu uma encomendação inédita de duas temporadas pela Amazon. Foram espertos: a produção varreu a maioria dos prêmios ao qual foi indicada, e Amy fez história ao se tornar a primeira mulher a ganhar nas categorias de roteiro e direção por uma série de comédia.

No dia 6 de dezembro, a Amazon disponibilizou todos os episódios do terceiro ano de Mrs. Maisel. Midge agora está em sua primeira grande turnê ao lado do cantor Shy Baldwin, e talvez surpreendendo apenas a si mesma, está fazendo um ótimo trabalho, obrigada. Enquanto isso, sua empresária, Susie, sofre para lidar não só com Reggie, o nada amigável mas excelente empresário de Shy Baldwin, e com Sophie Lennon, a comediante rival de Midge que quer ser agenciada por Susie. Os Weissman, pais de Midge, agora precisam se acostumar com uma nova situação financeira já que o patriarca Abe decidiu abandonar seu trabalho como professor universitário, desestabilizando completamente a família. E, por último, temos também Joel Maisel, que tenta equilibrar as responsabilidades de cuidar dos filhos, enquanto a mãe está em turnê e abrir uma casa noturna ao mesmo tempo, conhecendo no caminho a esperta Mei.

Alex Borstein and Rachel Brosnahan in The Marvelous Mrs. Maisel (2017)

Quem co-escreve a série é Daniel Palladino, marido de Amy. Os dois, desde os tempos de Gilmore Girls, são conhecidos pelos diálogos rápidos como bala e cheios de referências à cultura pop em geral. Aqui isso não é diferente e uma das maiores qualidades da série é como texto e o diálogo são tão ou mais importantes do que a trama em si. É notável como querem nos contar não só o que esses personagens estão passando, mas o que esses eventos dizem sobre quem eles são (e o que vão fazer a respeito). Deve ser muito prazeroso ser um ator nessa série em qualquer personagem, pois até mesmo o coadjuvante com o menor tempo de tela ganha seu espaço para brilhar. Um bom exemplo disso nessa temporada é Imogene (interpretada por Bailey De Young), a melhor amiga de Midge, que começa a enfrentar problemas em seu casamento, quando o marido Archie passa tempo demais ajudando Joel a abrir sua casa noturna.

As novas adições ao elenco são igualmente benéficas ao seriado. Uma das maiores críticas que os Palladino enfrentaram ao longo dos anos foi a discussão sobre a falta de representatividade em suas produções. É 2019 e realmente não há mais desculpa para um elenco inteiramente caucasiano, não importa em qual época a história se passe. Sterling K. Brown (Reggie) e Stephanie Hsu (Mei) aparecem relativamente pouco, mas por tempo suficiente para mostrar a que seus personagens vieram e que eles se adaptam facilmente ao ritmo corrido da série. É esse elemento que também acrescenta discussões sobre racismo e política na série, que já aborda constantemente os costumes da comunidade judaica. Mesmo que ainda seja tudo de maneira breve, daquele jeito “pisca e você perde”, como os momentos em que Shy Baldwin fala sobre a segregação em estados específicos, não deixa de ser importante que isso tudo esteja ali.

Entretanto, um aspecto que não mudou é o excelente trabalho técnico de figurino e cenários ao reconstruir os anos 1950. Qualquer ambiente, por menor ou mais insignificante que seja dentro da cena ou da história, é recheado de cores vivas e detalhes que dão um tom quase fantasioso à produção, algo quase mágico. A trilha sonora, recheada de clássicos e sucessos da época, também contribui muito para que essa ambientação seja não só eficaz, mas encantadora e charmosa. Os famosos planos-sequência da dupla também dimensionam bem a qualidade desses elementos, trazendo uma direção dinâmica e que aproveita bem tudo o que está sendo mostrado na tela.

As atuações continuam primorosas: embora Rachel Brosnahan continue em completo domínio de Miriam Maisel, desde os momentos mais dramáticos até o completo magnetismo em suas apresentações de stand up, Alex Borstein ganha ainda mais espaço na terceira temporada. Susie está com as mãos cheias no trabalho, todavia também tem suas próprias questões pessoais, como o vício em apostas e a família distante. Borstein, notória por seu trabalho cômico e como artista vocal, é excelente não só na entrega dos diálogos carregados, mas em seus próprios maneirismos e  personalidade. Susie é impaciente e temperamental, mas também competente, ágil e preocupada e a construção diferenciada que a atriz entrega para cada um dos momentos que a personagem é impecável. Tony Shalhoub, que também já ganhou o Emmy pela série, parece ter mais e mais para acrescentar com seu Abe, que embora seja tão questionador e inteligente, ainda é um reflexo do peso que as decisões de um marido trazem para a vida da esposa.

The Marvelous Mrs. Maisel mostra-se, assim, a grande série a ser batida pelos próprios anos – Veep, ouviu isso? Mesmo com aqueles pequenos deslizes até naturais, o fato geral é que estamos de frente com uma produção na qual deverá virar um grande clássico da televisão. Bom para o Prime Video, que apostou antes de qualquer um chegar na frente. Melhor ainda para Amy Sherman-Palladino, virando uma das maiores mulheres em atividade nos bastidores dos seriados.

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