Crítica: Romance – Camila Cabello

Após quase dois anos do lançamento de Camila, que teve a difícil missão de provar ao público o quanto sua carreira como cantora solo tinha potencial, Camila Cabello apresenta para o público sua versão mais sensual e apaixonada, abusando de elementos de sua origem latina – que dão o tom de toda a obra. Ainda que após seu primeiro disco sua carreira tenha entrado ainda mais em ascensão, a cantora precisou administrar uma questão importante em sua trajetória: o sucesso de “Havana”. 

Lançada em 2017, “Havana” foi um dos grandes êxitos daquele ano, rendendo boas posições nos charts, colecionando prêmios e, principalmente, consolidando ainda mais a artista. Porém, é nítido o quanto seu sucesso fez a cantora mudar completamente os rumos de sua carreira. Os singles anteriores – como “Crying In The Club” e “I Have Questions” – foram descartados, e o clima latino se apoderou de suas produções, tomando formas ainda maiores neste segundo álbum. Aliás, talvez esse seja o grande problema de Romance. Na tentativa de replicar seu sucesso, Camila mira em encontrar a Havana 2.0, mas acaba acertando apenas uma sucessão de músicas sem muita alma.

Capa de “Romance”(2019)

Abrindo o álbum temos a soturna “Shameless”, que já nos prepara para a corajosa Camila que está sendo apresentada, mas em uma faixa que, infelizmente, perde a força devido aos vocais excessivamente agudos. Em “Living Proof”,  os tons latinos começam a dar as caras, enquanto somos embalados por um amor digno de grandes corais. Já “Should’ve Said It” é a primeira das irmãs perdidas de seu maior hit, todavia sem a força da original, e que se enfraquece ainda mais por anteceder “My Oh My”, feat com o rapper DaBaby, na qual, ao abraçar completamente a latinidade, assume ares de um grande hit.

Logo após uma surpresa, a sexy “Señorita” ganhou um espaço entre as faixas. Merecidamente um dos grandes sucessos deste ano, a música conversa bem com o resto do álbum, apesar de claramente ter sido colocada aqui como uma manobra para inflar a contagem de streams, ou seja, nada que outros artistas não façam. Se sucede com “Liar”, no qual somos postos em um ambiente mais dançante, e aqui a cantora tem seus vocais mais bem colocados, fugindo da agudeza extrema que a marcava até então.

Um dos grandes destaques positivos de Romance é a ótima “Bad Kinds Of Butterflies”, uma das melhores faixas dessa produção. As seguintes, “Easy” e “Feel It Twice”, são apenas medianas. Ambas perdendo força ao não apresentarem nenhum tipo de identidade própria, exalando a intencionalidade de atingir as rádios da forma mais genérica possível. Aliás, aqui se evidencia o quanto as músicas são parecidas. Há ares de coesão musical, mas ao mesmo tempo uma certa mesmice quanto a melodias e produções. 

O romantismo acaba ganhando mais forma em “Dream Of You”, funcionando bem como uma antítese da dançante e vingativa “Cry For Me”. Encerrando o álbum, há uma tríade bastante interessante musicalmente. Em “This Love”, uma Camila prestes a superar um causo romântico nos agracia com uma das músicas mais diferentes neste conjunto; em “Used To This” a sensualidade é ainda mais aflorada; e “First Man” o encerra de forma dramática e pessoal.

Não há exatamente um grande erro aqui, porém, por outro lado, também nenhum grande acerto. E esse acaba sendo seu maior problema, a medianidade de suas músicas e a falta de um fator que o torne mais memorável. Camila Cabello funciona bem nesta persona mais sensual e melodramática, e mostra que tem sim potencial para se consolidar no meio pop, mas deixa a sensação que talvez seja cedo para tal. Em meio a diversas tentativas de um novo grande sucesso, e a certeza de que esse é um caminho que será muito explorado, Romance – infelizmente -termina com a sensação de potencial desperdiçado. Aparentemente esse romance não foi um dos melhores.

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