Crítica – Army of the Dead: Invasão em Las Vegas

Zack Snyder ganhou status de amado e odiado ao longo da carreira. É simplesmente 8 ou 80 com grande partes dos admiradores de cinema. Por um lado, também teve isso remexido por ter sido o responsável pelo pontapé inicial da criação e concepção visual do universo cinematográfico da DC. Para além dessa figura extremamente polêmica, Snyder sempre foi um cineasta que se preocupou em debater determinadas questões políticas dentro de suas obras. Temas como moralidade, poder, controle e mais sempre se fizeram presente desde Madrugada dos Mortos, de 2004, sua primeira produção oficial, até Batman vs Superman. No entanto, se no primeiro isso era tratado em um esforço quase melodramático, em que pouco importava um interesse sobre o universo de zumbis, aqui o diretor muda a chave e transforma Army of the Dead: Invasão em Las Vegas em uma divertida aventura política.

Como havia dito, o interesse de Snyder sempre foi transformar o menos em mais. Aqui, ele passa para um lado contrário. Em vez de fazer uma história que busca confrontar cenários apocalípticos pelo mundo, os zumbis controlam apenas um local: Las Vegas, o berço da ideia do que é os Estados Unidos. Desse jeito, Scott Ward (Dave Bautista) deverá retornar para a cidade em busca de um cofre do governo americano escondido em um cassino. Para isso, contará com a ajuda de diversos outros colaboradores, como uma piloto de helicóptero, um especialista em armas e uma pessoa que saiba a forma de se deslocar pela cidade cheia de zumbis.

A fábula política por parte do cineasta acontece de forma bem menos exposta. Ela está dentro dos noticiários e na maneira que o governo irá tentar controlar todo esse cenário. Dessa forma, pautas como a imigração, desigualdade social, controle de armas e o capitalismo como controle social entram em pauta – não à toda o lado principal da história acontecer dentro de um cassino. Snyder, contudo, usa esse elemento em Army of the Dead: Invasão em Las Vegas de forma a alimentar muito mais sua encenação e construção imagética. Por exemplo, seu enfoque em uma sequência que Scott atira em zumbis dentro do local com o dinheiro voando para o alto fala por si só. Mas esse elemento se entranha dentro do universo de maneira a ser uma parte especulativa dele, como se realmente estivesse já no DNA dessa sociedade que se marginalizou pelo fim de Las Vegas (aliás, o uso de uma cidade reconhecidamente sobre o capitalismo e a indústria do entretenimento demonstram bem a crítica política central).

Para o diretor, o mais interessante a se trabalhar nessa narrativa é o elemento especulativo da construção de um mundo. E, nisso, Zack Snyder parece saber bem o que está fazendo. Ele consolida, em pouco tempo de trama, diversos pontos de tensão que poderão ser explorados no futuro e, de forma bem curiosa, como também serão problemáticos aos protagonistas. Um exemplo claro é um policial assediador no local em que Kate Ward (Ella Purnell), filha de Scott, vive. Ele acaba os acompanhando na incursão e se torna uma peça chuva futura. Ao mesmo tempo, toda a construção do conceito dos zumbis alfa é também interessante para deslocar os microcosmos sociais existentes até mesmo dentro da sociedade zumbi – como se a humanidade dentro deles também tivesse destruído todo o lado de instito que esses seres poderiam possuir.

Esse uso temático de várias ideias fortes imagéticamente sustentam uma produção que tem, na sua base, uma ideia muito clássica de cinema: um filme de roubo, ou heist movie. Por isso mesmo, nessas correlações sobre o mundo e como a política acaba sendo entranhada nesses conceitos, é impossível não rememorar de obras como Tropas Estelares, de 1997 , e O Grande Golpe, de 1956. Todavia, há um certo lado muito mais lúdico aqui que a direção reforça a todo instante. É quase como se a produção quisesse deixar bem claro que estamos dentro de uma analogia, causando uma certa ironia sobre a contemporaneidade dos seus temas primordiais. Desse jeito, todo o lado vasto politicamente e comparativo não busca estar exposto como elemento central de um lado mais “puro”, mas como uma reconstrução do básico que é um filme de zumbi, ou de assalto ou dramático.

Esses elementos constrõem bem a forma como Army of the Dead: Invasão em Las Vegas é um longa curioso com seus próprios elementos do universo. Zack Snyder poderia retomar a um elemento básico, quase primordial das suas histórias, que é em olhar a relação do ser humano como ele mesmo é. Ele chega a fazer isso, porém transformando seu elemento narrativo em apenas um arco dramático para uma consolidação de entendimento sobre o mundo que foi feito após o domínio da cidade. Se agora a terra do capitalismo e do entretenimento foi dominada, como poderemos não ser os zumbificados da vez. Assim, o diretor olha com carinho para elementos parecidos em O Despertar dos Mortos, de 1978, feito por George Romero e cria um novo clássico crítico do gênero. Diferente dali, porém, desprendido de todo o possível das convenções que uma obra do tipo deveria ter.

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

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