Crítica – Arte da Diplomacia

Com o início da guerra entre Israel e Hamas vemos, mais uma vez, a importância histórica diplomática do Brasil. Um país que, desde o início do século XX, quase nunca se envolveu com guerras e, quando ocorreu isso, buscou quase sempre ser um apaziguador. Não a toa, na fundação da ONU, o Brasil tinha que ser chamado e também é, até os dias atuais, o primeiro país a discursar. Pela natureza, somos um país acostumado a sentar na mesa com os dois lados e conversar, negociar. Em suma, diplomatas, acima de tudo.

Por conta disso, diversos episódios históricos envolvendo esse lado nosso internacional aparecem vira a mexe. A grande maioria, entretanto, acaba sendo colocada um pouco de lado, não dando sua devida importância. Um desses episódios é o retratado no documentário Arte da Diplomacia, que foi apenas resgatado nos anos 2010. Nele, em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil enviou de navio 168 pinturas feitas por artistas modernistas para serem exibidas e leiloadas em instituições de arte do Reino Unido. Isso serviu para nos aproximar daqueles que lutavam contra a Alemanha e Japão e, ao mesmo tempo, demonstrar a capacidade multicultural que apenas esse país tinha.

Cena de Arte da Diplomacia

Zeca Brito aposta em uma estrutura bem tradicional para sua direção, com o resgate dos arquivos históricos sendo bem menos exibido e tela e mais buscado. Ou seja, o cineasta constrói dentro do filme de pouco mais de 1 hora e 30 minutos uma eterna corrida por esses arquivos esquecidos no tempo. Obviamente, é uma correlação já de cara com a forma como esses documentos foram renegados e deixados de lado por grande parte da historiografia de nosso país. Seria necessário recordá-los e talvez esse seja seu principal objetivo.

Contudo, mais do que apenas aquilo que podemos ver, há também o invisível, que se conecta no passar dos anos. Arte da Diplomacia também é um longa que busca ser mais interessado e atencioso com os efeitos desse acontecimento. De que forma isso reverbera ainda no presente? É uma maneira de entender os motivos desses artistas (em que alguns são destrinchados) servirem tanto para essa atitude diplomática. No todo, eles não são figuras passivas, que tiveram apenas suas obras pegadas e levadas. Ao contrário, o movimento modernista fez muito parte dessa ideia de enfrentamento ao fascismo, que buscava reascender os valores greco-romanos.

Cena de Arte da Diplomacia

De todo modo, Arte da Diplomacia não quer ser um documentário bem maior ou mais metafórico do que aparenta. Aliás, Brito está atrás realmente de não responder tantas perguntas, mas apenas deixá-las como uma reflexão para o telespectador. Em uma montagem quase cíclica (em que somos apresentados a uma situação, depois a um artista e, por fim, a conclusão do mesmo), há um certo espírito atemporal. O filme quer realmente retratar isso e soar sempre como uma demonstração da força brasileira que muitas vezes é esquecida. A crítica ao ex-presidente Jair Bolsonaro, com seu distanciamento com a cultura e as artes, reforça esse aspecto. É realmente um longa que busca celebrar nosso lado mais gentil e criativo: a nossa arte de ser brasileiro.

Essa crítica faz parte da cobertura do Senta Aí do Festival do Rio 2023

Comentários

Cláudio Gabriel

É apaixonado por cinema, séries, música, quadrinhos e qualquer elemento da cultura pop que o faça feliz. Seu maior sonho é ver o Senta Aí sendo reconhecido... e acha que isso está mais próximo do que se espera.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *