Crítica – Corsage
Há um grande dilema contemporâneo em produções de época. Ao mesmo tempo que precisam buscar um retrato fiel sobre o período retratado, também vão atrás de atualizar temáticas e personagens. Corsage vai justamente por esse caminho, em buscar ser um grande intermédio dos dois lados. Enquanto é um filme sobre uma mulher com 40 anos que buscar desvincular sua imagem a idade, é também uma obra sobre Elizabeth da Baviera, Imperatriz da Áustria (Vicky Krieps). Por isso, todo o lado sobre envelhecimento acaba se transformando em sua temática prioritária, em uma forma de caminhar entre dois mundos que parecem tão distintos, só que, em diversas ocasiões, pouco mudaram.
A direção de Marie Kreutzer vai em cheio nesse sentido. Ela transforma o longa em uma espécie de tragicomédia. O drama capilar da sua protagonista é fundamental para entendermos ela como figura feminina nesse universo de domínio masculino. Desse jeito, através dos figurinos e da imposição dos quadros, vemos como, mesmo sendo uma figura maior, ela se vê a todo tempo menor perante todos os seus subordinados e outros nobres. O fato de não ser uma mulher jovem, também a torna um tanto quanto escanteada em todas as conversas e nas opiniões a serem dadas sobre o futuro do reino.
Enquanto constrói esse clima opressivo, Kreutzer também faz de Corsage uma trama sobre amadurecimento adulto. Elizabeth é uma figura que não quer se ver como falha, mas está atrelada a sua vida a isso. Ela não é aquele ideal de um líder, ao mesmo tempo que também não busca ser. Dentro de todas essas contradições, a cineasta transforma a narrativa em um drama sobre crescimento e o entendimento do seu papel no mundo. É a partir daí que o trecho mais cômico se apresenta, através das interações embaraçosas da Imperatriz com as amizades e amores
O problema é como o filme soa um pouco cansativo em determinado instante ao se transformar em um grande looping. As ações, pensamentos, perspectivas, situações, quase que se repetem, vivem em uma mesma circunstância. Apesar disso se relacionar com essa protagonista confusa sobre tudo, é também apenas enfadonho acompanhar uma mesma circunstância. Dessa forma, é como se o lado mais formulaico de um drama de época se apresentasse, conquistando espaço em cima do debate interessante proposto pelo roteiro e pela própria direção. Toda a conjunção desses luxos e de um ambiente fora da realidade parecem serem apenas lembrados quando convém.
Em certa medida, Corsage, de Marie Kreutzer, parece na primeira página alguma coisa que quer fugir e debater a própria concepção dos dramas de época. Quer ser subversivo, e olhar para sua protagonista como alguém capaz de enxergar certas dores do mundo contemporâneo em sua época. Só que, como dito, isso parece ficar mais na primeira página mesmo. Quando o filme se mostra, ele não sabe nem bem o que quer ser e nem como quer soar. No fim das contas, parece apenas que atingiu o objetivo em pouco tempo e utilizou o resto como forma de repetir as mesmas coisas.